Let´s Go!

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Let´s Go!

15.3.12

Há pouco o que fazer com a infelicidade dos outros

Parece fatalismo, mas não é.  O que podemos fazer pelos outros é muito pouco.
Não adianta dar atenção, tratar com carinho, sorrir, fazer agrados, ser gentil. Isto só dá certo se já existe na pessoa a disponibilidade de receber esta atenção. Há pessoas que não ativaram este botão, e que sofrem sem saber por que estão sofrendo.
Não quer dizer que você não deva fazer tudo isto. Faça! Mime as pessoas queridas, dê atenção, carinho, mas não espere que isto vá gerar algum resultado, pois possivelmente não vai gerar.


Precisamos aprender a oferecer afeto sem gerar nada em troca, o que em muitas situações parece impossível.
É necessário lutar contra uma prepotência que temos, parte inflada pelo ego, parte estimulada pela lógica "ação-reação" (se eu faço o bem para alguém ele necessariamente irá se sentir ou ficar bem).


No fundo o grande desafio é a prática do desapego. Conseguir oferecer o afeto sem esperar nada em troca, nem para você nem para a outra pessoa. Muitas vezes falamos do desapego e associamos com o desapego pessoal, aquele que faz que você não espere nada para você do que fez, mas é bom lembrar que é necessário se desapegar inclusive de que seu sentimento vá gerar algo no outro.


Temos inúmeros ditados que vão contra este pensamento, acho que o principal é "Não adianta jogar pérolas aos porcos", como se fosse preciso selecionar a quem dirigir o afeto. Eu mesmo penso muitas vezes assim, já que é uma chatice ser gentil com quem te trata mal, ser afetuoso com quem está azedo. Mas, se pararmos para pensar, o que interessa mesmo? Ser afetuoso ou gerar algum resultado com o afeto? É uma troca o que você espera? Então é melhor definir qual tipo de troca está esperando e qual a moeda que vai utilizar. Mais do que isto, é bom também definir o quanto vale a sua moeda. Um "bom dia" vale um sorriso? Se não receber "sorriso" de volta não dá mais "bom dia"?


Se soubermos gerenciar a frustração e a expectativa da sensação de gratuidade, é possível ter uma relação afetuosa com o mundo. Mas não espere que isto vá gerar nada, é só pelo afeto mesmo.

1 comentário:

Yara disse...

Na verdade, sempre tive dúvidas se o que a gente faz pelo outro é pelo bem dele (afinal ele se beneficia), pelo nosso próprio bem, pois sempre tem uma “recompensa” (óbvia ou subliminar) nisso, tipo um “muito bem, Flipper”(que pode vir de inúmeras formas), ou se inconscientemente (ou não) fazemos mesmo para restaurar um pouco da fé na humanidade, como se nossos gestos de gentileza/amor/cuidado pudessem redimir a espécie das barbáries cometidas, sei lá...
Acho que a disponibilidade de receber atenção precisa de...treino, sabe....aquela velha história de que você não sabe dar o que nunca recebeu, e se nunca recebeu tem dificuldade de reconhecer qdo recebe...meio enrolado, né?
Tem gente (e não me excluo) que é meio...refratária a receber elogios/carinho/afeto...pq não sabe bem como lidar com eles...sabe quando você está deslocado e não sabe onde colocar as mãos? (aqueles casos em que só uma taça de vinho para segurar te salva? :o)
Independente do resultado, ser mimado é uma delícia...e mimar também...Acho que isso de oferecer sem GERAR nada em troca não existe...Creio que todo movimento de afeto gera uma ração em quem recebe...cada um a seu modo, e nem sempre as reações são óbvias/perceptíveis...e como vc colocou muito bem, não necessariamente a pessoa vai ficar bem...mas acho que ninguém recebe “impunemente” gestos/atitudes amorosas....independente das expectativas de quem oferece.
Oferecer sem ESPERAR nada em troca é mais difícil...existe mesmo amor incondicional, desinteressado? Nossas alminhas já estarão tão iluminadas? (a minha ainda está à luz de velas...)
O ideal seria oferecer afeto pelo seu....valor intrínseco...e não pelo retorno que se pode obter...mas conseguimos fazer isso sempre que somos afetuosos? Acho que não.....pq td mundo tem suas carências, suas fragilidades...que precisam de “alimento” de quando em quando.
Acho ótima sua colocação do uso do afeto como moeda de troca....o mesmo vale para o sexo...como vc bem colocou, qto vale um sorriso? Qto vale um eu te amo? Quando qualquer manifestação de amorosidade incorpora um “valor de mercado”, acho deixa de ser um gesto de doação e vira uma “ferramenta de controle”....se a pessoa está carente (qquer tipo de carência) e vc tem o alimento/alívio/remédio para isso, quanto poder isso te dá? E como você vai usá-lo? Quantos “eu te amo” são necessários para manter uma relação? Quão gentil vc tem que ser para dar uma transadinha como recompensa?
Gosto da ideia de uma relação afetuosa com o mundo....gosto da ideia de poder distribuir afeto pelo afeto.
Mas superar a expectativa do retorno (do outro, do “universo”, whatever) e o desdapego, é uma batalha pesada, e pode ser inglória...né não?