Let´s Go!

Let´s Go!
Let´s Go!

23.3.12

O Sidnei Basile sabia de tudo!

Para quem não conheceu o Sidnei Basile posso dizer que perdeu a oportunidade de conhecer um grande cara. Além de amigo, pai e marido querido, era um baita especialista em comunicação.
Trabalhou num monte de empresas importantes e fez a diferença por lá.


Mas a história que vou contar foi de uma (rara) época em que ele trabalhou como consultor autônomo. Durante um intervalo entre uma empresa e outra montou escritório e começou a atender clientes. Ele me contou esta história nesta época. 


O Sidnei havia sido contratado para uma tarefa ingrata: Uma montadora de carros estava saindo de São Bernardo do Campo e mudando a fábrica para o Nordeste. Demissão em massa. E ele teria de criar uma estratégia para minimizar o impacto do processo.


Outras também saíram de lá, devido aos altos custos de mão-de-obra especializada, impostos e coisas do gênero.


Uma das montadoras resolveu o problema da seguinte maneira: Mandou um telegrama alguns dias antes do Natal para todos os funcionários e avisou que tava todo mundo demitido. Favor passar no RH. 
Os funcionários ficaram chocados, mais precisamente enfurecidos. Foram até a porta da fábrica, botaram fogo, fizeram greve, sindicato... Deu matéria na capa do jornal mostrando a bagunça que estava acontecendo e, obviamente, destacando a insensibilidade dos gestores de agirem daquela maneira.


Já o Sidnei teve uma bela ideia: Contratou um pesquisador da área econômica e mandou o sujeito investigar quais eram as oportunidades de negócio para empreendedores na região. Mais do que isto, procurou o Sebrae  e pediu cursos de especialização para requalificar a mão-de-obra da fábrica. E, para completar, entrou em contato com o Banco do Brasil para estudar linhas de crédito com baixos juros.


Com o plano pronto, o presidente da montadora chamou todos os funcionários num grande galpão e contou a parte ruim da história: Todos seriam demitidos. Mas ressaltou que não ia deixar ninguém na mão. E disse que:

  1. Havia contratado um especialista em empreendedorismo, e chamou o cara pro palco. O especialista mostrou a pesquisa que tinha feito e disse que existiam boas oportunidades em duas áreas: panificadoras e manipulação de frango (cortar e embalar).
  2. O Sebrae tinha montado um estande atrás do público para atender os interessados em fazer cursos de especialização em empreendedorismo e nas áreas específicas. Os cursos seriam subsidiados pela montadora.
  3. Havia um estande do Banco do Brasil que oferecia uma linha de crédito especial para o grupo poder pensar em novos negócios.
  4. Para finalizar, o presidente da montadora garantiu que ele iria comprar toda a produção dos empreendedores durante o primeiro ano do negócio.
Sabe o que aconteceu? Ele foi aplaudido de pé. .. Só para lembrar, quem estava aplaudindo tinha sido demitido minutos atrás.

Algum tempo depois os dois presidentes das montadoras se encontraram por acaso num restaurante. O que tinha enviado o telegrama não se conformou:
" Como você conseguiu? Eu fui processado, a mídia me chamou de bandido, o sindicato inflamou um monte de greves, toda a opinião pública contra mim, e com você não aconteceu nada!"

O outro sorriu e disse:
"Pois é, meu consultor era melhor que o seu..."

E o Sidnei se desmanchava de rir com aquela risada gostosa dele. 
Um dos caras que vão fazer falta neste planeta.

22.3.12

Onde é o "dentro de mim" ?

Uma das características mais marcantes da compreensão de nós mesmos é o conceito de "dentro" e "fora". Quando gostamos de alguém, dizemos que ela mora no nosso coração. E quando sentimos uma perda, parece que a pessoa foi embora de dentro de nós, não de nossas redondezas.

Acho que é por isto que a Pele é tão fascinante, ela é a neurônio da nossa alma, que delimita nossos "eus" e interfaceia com o mundo exterior, ora agindo como membrana semi-permeável, ora como escudo.


O filme " A Pele Que Habito", de Pedro Almodovar, trata de uma maneira intensa a questão do que é o "dentro" e o "fora", utilizando um recurso bem hollywoodiano, que é fortalecer uma metáfora subjetiva através de seu próprio reflexo objetivo. Explico: Dramas europeus tendem a criar metáforas muitas vezes antagônicas, o que está acontecendo na psique dos personagens apresenta uma distância fatual do que acontece em cena. No  filme de Almodovar, a questão da personalidade se resolve na cirurgia plástica. A questão da ausência e presença de objetos de afeto se manifesta na substituição do objeto, numa quase clonagem. O ódio se transforma fisicamente em amor, e vice-e-versa. É um dos filmes mais bem acabados do diretor, do ponto de vista cinematográfico.


Por outro lado, ao tentarmos entender a Pele nos deparamos com Cole Porter e sua belíssima canção Under My Skin, cantada por muitos, em especial Frank Sinatra. A lenda sobre esta música é que seria uma homenagem não a uma mulher, mas sim à cocaína. Curiosamente, tanto faz se é uma pessoa amada ou uma droga injetável, ela corre por dentro de nós, por baixo de nossa pele...


Por isto não deixa de ser surpreendente que a Nokia tenha registrado pedido de patente de uma tatuagem eletromagnética que vibre quando seu celular toca. É essencialmente o limite entre o dentro e o fora, onde a comunicação quer chegar, mas ainda esbarra em nossa Pele, que agora vibrará quando chegar uma mensagem ou seu celular tocar. A busca da mídia (hard e soft) em acessar os nossos mais íntimos desejos encostou na nossa Pele. O que ainda não sei é se ativaremos o nosso módulo Desejo (onde teremos prazer que ela vibre quando a pessoa amada ligar) ou o módulo Escudo (aparentemente mais frágil, pois será cada vez mais difícil ignorar quem não desejamos).

21.3.12

Quanto custa uma Geisy Arruda para uma empresa?

Saiu o valor da indenização que a Uniban vai pagar para a ex-estudante e agora semi-celebridade Geisy Arruda: 40 mil reais.
Para quem acha pouco, vamos calcular um pouco o impacto da má gestão da comunicação quando aconteceu o incidente, mas antes, lembremos o que aconteceu:
A aluna Geisy Arruda foi com uma saia bem curta na faculdade, e ao subir as rampas era possível ver mais do que suas pernas. Alguns alunos começaram a persegui-la e ofendê-la, num misto de impulso erótico e agressão.
Diante do fato, a direção da Uniban, ao invés de punir os agressores, puniu a aluna, expulsando-a da faculdade. E como a repercussão na mídia foi péssima (apesar da inquestionável roupa inadequada, a agredida foi a aluna), os diretores resolveram reverter a expulsão e punir de leve os agressores, explicitando a falta de clareza que tinham sobre os valores que regem a instituição (lembram do papo de Missão Visão e Valores das empresas? Isto não parece nem um pouco claro para o Conselho da Uniban).
A imagem da Uniban ficou muito afetada depois disto. Já era fato conhecido nos meios acadêmicos que a qualidade de ensino do local era no mínimo questionável, agora eram os valores morais e a integridade dos alunos que estavam em jogo.


Pois bem, calculemos o prejuízo da falta de clareza e da condução errada:

  • Um ano depois do fato o índice de matrículas caiu bruscamente: de aproximadamente 35 mil alunos matriculados o número foi para 15 mil matrículas, uma perda de mais da metade dos alunos, umas 20 mil pessoas. Um aluno paga em média R$ 300,00, assim, mensalmente a Uniban deixou de arrecadar uns R$6.000.000,00. Isto sem contar que este aluno paga durante 48 meses, no mínimo, para se formar.
  • Não tenho dados precisos, mas acredito que o processo seletivo coloque uns 8 mil alunos por ano na faculdade. Se este número caiu proporcionalmente à evasão, devem ter deixado de entrar 4 mil alunos novos, que gerariam uma receita de R$ 1.200.000,00 mensais durante quatro anos.
  • Durante o processo de negociação da aquisição da Uniban pela Anhanguera, o cálculo do valor da instituição foi definido pelo número de alunos que ela tinha, além de vários outros fatores. Vamos dizer que se o número de alunos representar 10/% do valor total que ela valia, se ela foi vendida por R$ 510.000.000,00 a perda dos alunos baixou em R$ 50.000.000,00 o valor na hora da venda.
Estes números são apenas referência, e alguns deles podem estar errados, mas queria mostrar a dimensão da perda numa decisão equivocada e na condução inadequada de uma situação de gestão de crise. Quando você vir que o processo da Geisy Arruda deu um prejuízo de R$ 40,000,00 para a Uniban lembre que a perda foi de dezenas de milhões de reais. 

Comunicação dá prejuízo dos grandes, às vezes irreparáveis.

Para quem não sabe, uma situação ruim pode ser revertida sim! Vejam o exemplo do Halls de Uva Verde, que ia sair da linha de produção e a Kraft acompanhou as reclamações pelas redes sociais e criou uma campanha interessante aproveitando a oportunidade.

20.3.12

Há sempre algo para nos lembrar de que somos humanos

Na antiguidade César era acompanhado de um serviçal que tinha como única função lembrá-lo de que ele era mortal. Não sei se nunca tive o poder de César para precisar de alguém para me lembrar disto, mas sei que a vida é infinitamente criativa para nos lembrar de nossa condição humana. Muitas vezes a vida é irônica com isto, parece que quebra as nossas pernas justo naquilo que nos consideramos poderosos ou invencíveis.
Quando estamos bem de dinheiro, damos aquela respirada e resolvemos sentar na rede e curtir a bonança, lá vem a vida quebrando a rede e mandando a gente para o hospital. Quando estamos bem de saúde lá vem a vida avisando que deu problema no banco e que o dinheiro se foi.


Um dos problemas é a construção de narrativas lineares que criamos em nossas mentes. Parece que as coisas precisam ter uma sequência positivista, uma evolução que tende ao infinito. Mas o dado de realidade é que a vida é fragmentada (tanto que ficamos tentando "criar" esta linearidade em nossas cabeças, o aleatório absoluto parece inaceitável). 


Se aceitássemos que as coisas acontecem sem o nosso controle talvez nossa vida fosse melhor. Mas a relação causa-efeito parece que sempre está presente, como a dizer que se fizermos uma coisa geraremos algum determinado resultado, o que quase nunca é verdade.


Quando algo acontecer na sua vida que te desestruture, não é para ficar animado, mas também não precisa se desesperar. Eis uma bela oportunidade de lembrar que as coisas não estão sob o seu controle. E sem precisar de um cara colado em você falando "você é humano... você é humano...", como o grande (ou pobre) César.