Let´s Go!

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12.3.12

Facebook é o delírio coletivo

Carros lindos e potentes, vídeos de festas maravilhosas, sentimentos profundos e nobres.
O Facebook é hoje a representação do delírio das pessoas. Neste sentido ele é muito mais do que o Second Life, que ainda têm desafios gráficos a serem transpostos para poder representar o mundo ideal. Hoje o mundo ideal é o Facebook.
Há muito de sórdido e banal também eu sei, mas é como se fosse um dos círculos internos desta grande fantasia. Mas existe, sem sombra de dúvida uma projeção das pessoas querendo simular o que queriam ser, ter, como queriam estar conectadas umas às outras e com as divindades contemporâneas, em especial Gaia, nosso grande arquétipo místico do século XXI.
Até o Muro das Lamentações (Afetivas, Profissionais e Políticas) que aparece vez em quando em nossa timeline é um grande delírio: Como se o resmungo pudesse melhorar relações amorosas, consertar as relações de trabalho ou derrubar modelos centenários de poder no país e no mundo.
Durante uma de minhas corridas no centro de SP comentei com o Ricardo, brother de coração e atual colega de correria, que o fato de estarmos correndo e as pessoas ao redor olharem (somos as únicas pessoas correndo nesta região, acreditem) geraria mais reflexão do que se fizéssemos milhares de pessoas participarem de um grupo no Facebook estimulando a ginástica.
Esta hipertrofia do desejo que o mundo virtual traz gera riscos, em especial a possibilidade de insatisfação absoluta com o Real. Nenhum carro será tão potente, nenhum amor tão maravilhoso, nenhuma causa tão nobre.
Esta virtualização dos sentimentos e expectativas é para o mundo das relações a mesma coisa que a Pornografia é para o Sexo: Altamente estimulante, absolutamente dirigida (segmentada pelo indivíduo, visando uma prática solitária, mesmo quando acompanhada), orientadora do desejo e frustrante, pois nunca a sexualidade se manifestará como ela acontece nos filmes.
As redes sociais hoje criam uma expectativa que nunca se cumprirá na vida real. Você está preparado para esta grande frustração?


Lembrando obviamente do Baudrillard e sua teoria pós-orgia em A Transparência do Mal, que por sinal recomendo.

4 comentários:

Rodolfo disse...

Bender, recomendo que assista um filme argentino do ano passado chamado Medianeras. Trata exatamente das relações entre os indivíduos no mundo moderno e na era digital.

Yara disse...

Concordo com várias colocações do seu texto, sobre idealizações e criação de mundos que não existem e de expectativas que nunca serão alcançadas..
Mas fiquei pensando uma coisa: será que isso nunca existiu? Foram a internet, as redes sociais e as relações virtuais as responsáveis pelo nascimento/fortalecimento de delírios?
Sou de uma época muito anterior à “era digital”...a até onde me lembro, sempre criei mundos, expectativas e delírios...só acho que antes a gente não tinha a possibilidade de dividir com tanta gente e tão rapidamente....não era tão...público..
As pessoas sempre simularam quem/como queriam ser...mas isso a gente só escrevia nos diários, que no máximo quem lia eram mães e irmãos qdo fuçavam nas nossas coisas...
Sobre virtualização dos sentimentos: ainda acho que não existem sentimentos ou amigos/amores virtuais...acho que virtual é apenas o “meio de transporte” usado para comunicar/aproximar....antes eram cartas e telefonemas....
Se pessoas têm algum tipo de conexão, seja de ideias, de sensações, de projetos, mas só podem se falar “virtualmente”, podemos realmente dizer que a relação não existe e que elas não se conhecem?
Se pessoas se olham (e “se enxergam”), se elas se tocam (e não só no sentido físico da palavra), se de alguma forma fazem parte da sua rotina mesmo estando há milhares de Km de distância, como dizer que essa relação é virtual e que não é real?...e aqui incluo relações amorosas, de amizade e mesmo as profissionais...
Vc pode dizer que duas pessoas que trabalham em uma mesma sala mas raramente se falam e não sabem nada uma da outra têm uma relação real? Podemos afirmar que um casal que só se fala para resolver problemas das contas da casa ou da educação dos filhos tenha uma relação real? Ou que pais e filhos que vivem sob o mesmo teto mas em mundos diferentes estão menos distantes do que amigos que só se falam “virtualmente”?
Concordo plenamente que algumas pessoas se enterram no mundo virtual e nunca mais voltam para o real, nunca mais interagem com ninguém sem a “intermediação” de uma tela...como “Alices” que, entediadas e curiosas, olharam pelo buraco e “caíram” no mundo virtual e nunca mais conseguiram sair de lá...
Também acho que isso tem tornado as pessoas mais solitárias, e ao invés de desabafarem as mágoas com amigos em uma mesa de bar, o fazem na TL de uma rede social, meio que pedindo colo e conforto para desconhecidos.
A gente não sabe se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha (bom, evolutivamente foi o ovo), mas o “nunca te vi sempre te amei” nasceu muito antes do computador e do facebook/twitter/Orkut e afins....
São as redes sociais que criam expectativas ou são as pessoas, desde Adão e Eva? E outra coisa: será que algum dia, independente de existirem ou não redes sociais, a realidade será tão....plena...que conseguiremos viver sem criar outros mundos por onde possamos transitar vez ou outra?
Não tenho uma resposta clara e segura para essas perguntas....

Rodrigo Perano disse...

Acho que não é apenas valido para redes sociais, jogos online acabam por fazer um papel no minimo equivalente, pois a interação através dos personagens ingame te da a oportunidade de realizar ações com outras pessoas, desde de um sinal "oi", "tchau" até ações agrecivas ou amorosas. Digo isso com base em grandes amigos que tenho no Rio de Janeiro, Nordeste, 4 amigos no Japão e a principal que foi minha namorada que era de Porto Alegre, que conheci jogando e passamos de uma relação de amizade para namoro, hoje ela mora em SP comigo... Acho que o virtual pode se tornar tão real quanto cada um acredite que seja...

iara com i disse...

Em relação ao texto da minha xará, gostaria de colocar que o facebook e as facilidades da comunicação "virtual" levam as expectativas a um paroxismo que não atingiam no tempo das cartas. Ao sonharmos e depositarmos nossos anseios nos diários, tínhamos certa noção de que muitos desses anseios eram pura utopia, ideais não realizáveis, o que não quer dizer não buscáveis. Porém isso atenuava a frustração, porque não se esperava a realização plena dos sonhos loucos, o que não vejo acontecer atualmente: os jovens e adolescentes com quem lido diariamente têm uma expectativa acima de qualquer possibilidade de realização, porque esse é o mundo que é vendido a eles, seja pela nossa velha amiga televisão, seja pelos novos instrumentos tecnologicamente avançados.