Let´s Go!

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1.6.13

O objeto inalcançável - A Nave Enterprise

Tenho certeza de que os fãs de Star Trek se interessarão por este post, mas garanto que todos vão entender o que quero dizer.

Star Trek é um seriado cujo personagem principal é uma nave. Esta é a verdade, alguém já disse isto e eu não me lembro quem foi. O personagem essencial é a nave. E a grande diversão dos filmes é ver como os personagens interagem entre si diante das adversidades das histórias.

O último filme, Além da Escuridão, resgata vilões antigos (e importantes), têm uma história cheia de correrias para lá e para cá, inversões de situações de filmes anteriores, mas a nave continua sendo o personagem principal.

Por que?
A abertura do seriado e dos filmes sempre cita a missão da Enterprise:

“Espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de cinco anos em busca de estranhos novos mundos, novas vidas e novas civilizações. Audaciosamente indo aonde nenhum homem jamais esteve.”

Algumas pessoas dizem que há um fetiche pelo Objeto da nave, a coisa da idolatria. Eu já discordo, o fetiche é pelo Objetivo da nave. Ir em busca do desconhecido, novos mundos: A fronteira final.

A série se propõe a investigar aquilo que não sabemos o que é, as fronteiras do conhecimento, colocar em xeque modos de pensar e abrir a cabeça para o novo.

Neste sentido, Star Trek é imbatível.

Curiosamente ia escrever um texto diferente sobre o assunto. Queria falar sobre a vontade de entrar na nave, e a consciência que temos de que nunca poderemos entrar nesta nave, por mais que queiramos. Mas isto vale para muitos outros conceitos abstratos criados pela nossa sociedade e mantidos por nós, como os julgamentos morais, o amor, a vida comum, e tantas outras abstrações que nos rodeiam e acabamos convivendo com elas. E achamos que realmente entramos nesta nave simbólica, mas apenas simulamos que entramos, já que ela é uma ideia, inatingível, inacessível, como a Enterprise, aquela nave bela que flutua na tela do cinema.


26.5.13

Grafiti? Para mim são entalhes na madeira do mundo

Fiz um grafiti na casa do meu querido amigo Luis Fernando Almeida neste final de semana. Na verdade fiz meio grafiti, pois tem uma parte que preciso terminar, faltou material.
Não tenho grande experiência com grafiti, mas tenho com o riscar. O risco faz parte de meu cotidiano, sem duplos sentidos psicológicos.

Queria falar algumas coisas sobre meu trabalho no universo visual. A primeira é que todo desenho é consequência do anterior, ou seja, ele faz parte de uma grande história, que começa nos meus cadernos no dia em que meu avô morre e se espalham por diversos suportes, em objetos, paredes, telas e mais o que aparecer pela frente. Existe uma mutação da forma, que conduz o tema, e vice-e-versa. Mas há uma proximidade visível entre o anterior e o próximo.

O que é realmente relevante neste tipo de trabalho não é a criação de uma imagem mental e a aplicação desta imagem sobre uma superfície. O que mais me interessa é o diálogo entre a superfície, o traço e a forma. Por isto a importância de alguns tipos de canetas (a fluidez da tinta, a ponta, a quantidade de tinta que escorre, o tempo de secagem) de desenho que uso. E por isto minha pequena produção de desenhos atualmente, já que as canetas que uso estão em falta no mercado. Preciso repensar o que vou fazer com isto.

A hachura (risquinhos), universo de textura/traço que habito, é absolutamente derivada da experiência com o entalhe das matrizes de xilogravura. O diálogo entre tentar cortar e o veio da madeira deixou uma marca importante na minha maneira de enxergar o produzir artístico. Algo como se fosse impossível aplicar uma ideia "pura" no mundo, na hora que traduzimos o pensar ele precisa passar pela característica do traço e depois dialogar com as características do suporte, que já existe, tem sua forma, densidade, etc.

Quando dou aula de Arte para adolescentes costumo dizer que "na vida não há borracha", e acho que todos devíamos pensar desta maneira. O traço que sai da caneta (ou da goiva, do cinzel, do pincel) é o que saiu, portanto, faz parte do gesto. O próximo gesto deverá dialogar com ele, e não corrigi-lo.

Sobre meus temas de desenho? Alguns são meus fantasmas, como o Super Herói que povoa minha alma e tento matar, descobrir qual é a Kriptonita que preciso usar. Enquanto não consigo matar o bicho, sublimo sua fantasmagoria em meus desenhos, deixo o monstro ir para fora de mim. Mas ele é assunto para outro post.

Meus asteróides são os ambientes inóspitos por onde este Super Herói viaja, mas meus asteróides às vezes se transformam em tentáculos (são formas muito semelhantes, um tentáculo enrolado parece muito com um asteróide). Neste exato momento, o asteróide está em mutação, e os tentáculos estão surgindo.

Crédito das duas primeiras fotos para Luis Fernando Almeida.