Let´s Go!

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13.10.10


Sobre Mineiros, Cavernas e Mitos

Escolhi (involuntariamente) uma curiosa maneira de acompanhar o resgate dos mineiros presos no Chile: Assistindo simultaneamente "O Poder do Mito", DVD com entrevistas do Joseph Campbell. E aí o tema me pareceu bastante apropriado para a situação.

Há algo que reconhecemos nas histórias - que contamos, que vemos e que nos comovem - com os mitos, e tenho pensado muito em quais seriam os mitos que regem nossa sociedade contemporânea.
Estranhamente não havia pensado que a saga dos mineiros presos na caverna pode simbolizar algumas coisas interessantes...

Quem são eles? O que estavam fazendo lá? Por que tamanha comoção mundial?

A primeira tentação é tentar compreender como um fenômeno meramente midiático, uma mistura de "A Montanha dos Abutres" com a intensa demanda de nossa sociedade por Reality Shows, a espetacularização da vida. Mas só isto não justificaria.

A segunda tentação é associar com uma questão de "projeção", afinal de contas sempre existiram crianças que caem em buracos e inúmeras pessoas assistindo o resgate, comovidas. Mas aí é que está o pulo do gato: ao invés de enxergarmos isto como explicação final, podemos compreender como parte de um fenômeno associado ao Mito: Afinal de contas, por que nos identificamos com estes trabalhadores presos num buraco?

Pensando um pouco, há algumas questões básicas. Uma delas talvez a mais importante é que eles simbolicamente retratam o conceito de ressurreição derivado das sociedades das florestas e adotado pelo cristianismo: Morremos, somos enterrados e então ressuscitamos, como a semente das árvores. A árvores renascem, como o espírito renascerá do corpo daquele que foi enterrado.
Temos fé de que os mineiros voltarão a vida, pois se isto acontecer nossa fé na ressurreição não será abalada, mas sim reforçada e renovada.

Há outro elemento rico que é o Chamado para a Aventura: nenhum daqueles homens sabia que existia uma aventura a ser vivida por eles, da mesma maneira que nos não sabemos qual e a aventura para a qual fomos chamados e nem por que. A vida, cheia de surpresas é igual a aventura da caverna, onde temos de continuar a viver sem saber como vai acabar.



Do ponto de vista simbólico, há a questão da Deusa, da caverna que representa o útero, de onde todos saímos. É como se estivéssemos assistindo ao nascimento dos trinta e três mineiros em tempo real, saindo das entranhas da deusa primitiva.


Por último, e não menos importante, é a identificação que temos com eles: Será que estamos todos nos sentindo aprisionados, no buraco, sem luz, sem contato, enterrados vivos, e aguardamos ansiosamente a chegada de alguém que possa nos tirar desta situação?


Não podemos banalizar as histórias que nos cercam, pois elas mexem fundo com a nossa própria e maravilhosa experiência de estarmos vivos.
PS - Minha aluna Camila Avelino me lembrou também do Mito da Caverna de Platão, também muito aplicável a esta situação...

12.10.10

Capitalismo, uma História de Amor

Assisti ao novo filme de Michael Moore, e tenho de assumir publicamente que adoro os filmes dele. Eu sei, ele está meio fora de moda (e de forma, cada vez maior), a mesma intelectualidade que o incensou hoje o questiona, mas acho fundamental que exista algo como ele no cinema, ou no jornalismo.
Me explico:

Primeiro que não existiria nada como o CQC sem o cara. Verdade. O absurdo da política surge retratado com humor através dos programas de TV dele.

Segundo: Ele é um cara disposto a mostrar "a outra história", mesmo que esta história esteja impregnada de seu ponto de vista. Este filme, em especial, apresenta uma versão saborosíssima da ajuda que o Congresso Americano deu aos bancos (700 bilhões, para começar), mostrando que praticamente todo o conselho econômico do governo era composto de pessoal da Stanley Morgan, incluindo o ex-presidente, atual Banco Central americano.
A análise histórica que Moore faz da liberalização das (questionáveis) práticas de livre mercado é mordaz, cruel, e muito razoável. Mesmo que saibamos que ele manipula o que mostra (como aliás acontece com todo mundo, não há imparcialidade em absolutamente nada. se conhecer alguém que se diz imparcial fuja! É um tendencioso camuflado que está na sua frente).

Terceiro que ele mostra um Estados Unidos com pobres, injustiçados, pensantes, oprimidos, o que nem sempre conseguimos ver em filmes da gringolândia.

Recomendo o filme. Não é uma verdade absoluta, mas uma visão irônica e extremamente inteligente do colapso de 2008 e das causas e efeitos do fenômeno.