Let´s Go!

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25.10.12

Em busca da verdade - Heidegger

Fico encantado cada vez que vou ao meu curso sobre Heidegger. Essencialmente o curso se resume a ler " Ser e Tempo", parágrafo por parágrafo, e debater.
Conheci acidentalmente Heidegger, meu antigo terapeuta era adepto da Daseinanalyse (nome do tipo de análise que investiga questões existenciais presentes na Filosofia do sujeito), e acabei me inscrevendo num curso sobre o tema. E fiquei abobalhado com a questão existencial.

A grande questão de debate hoje foi relativa a narrativas pessoais. Sabe aquelas histórias que você constrói, que ditam algumas características da sua identidade? " Minha mãe não me dava atenção quando eu era criança, portanto, sou como sou". Kit básico do debate psicanalítico freudiano, e amplamente discutido em qualquer momento em que você tenha bebido demais com algum amigo. Em qualquer lugar ouvimos uma explicação da existência baseada em alguma narrativa pessoal. "Sou assim desde que...", coisas do gênero.

Durante o debate, o professor, Marcos Casanova, fez o seguinte comentário:
"Se eu te pedir para olhar para uma pintura que você gosta muito e escrever, todo dia, um comentário sobre este quadro, num determinado momento, o quadro vai desaparecer. E vai sobrar apenas a narrativa da narrativa".

Esta é a questão. Num determinado momento o fenômeno (o quadro) deixa de existir e passamos a operar a partir das narrativas que criamos. E nos apegamos a elas, de uma maneira que quanto mais falamos sobre elas mais nos distanciamos do fenômeno em si.

Imediatamente me lembrei de uma narrativa que me perseguia, da minha infância. Lembro de minha avó ter falado para mim de uma determinada tristeza que eu tinha quando pequeno, e como isto se tornou importante para mim.
Aí pensei: Quantas outras coisas a minha avó falou para mim? Será que toda vez que eu via a minha avó ela falava sobre isto? Claro que não. Conversamos sobre inúmeras outras coisas, mas eu, de alguma maneira me apeguei a esta história até que num determinado momento o fenômeno deixou de existir, existia apenas a narrativa. E quanto mais ela era lembrada, mais era reafirmada, e menos o "fato" existia.

Fazemos isto o tempo todo. Por que? Para de alguma maneira evitarmos um vazio que surge quando pensamos sobre nossa existência, que é fluida e dinâmica. Por isto nos apegamos a estas narrativas, para podermos evitar refletir sobre nossas vidas.

Como diria Criolo, "o bagulho é louco".... :o)

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