Carta aberta ao síndico do meu prédio - Sobre a festa

Caro Sr. Síndico,
Gostaria de esclarecer algumas questões sobre a pequena festa que aconteceu ontem em meu apartamento.

1 - O Seu Farias, o porteiro, só se vestiu de James Brown porque eu pedi. Ele não chegou a beber muito Fogo Paulista, como foi dito por fofoqueiros. E nem seria problema pelo fato dele estar no horário de folga.
O fato dele cantar I Feel Good girando o gato do Fábio do 6o andar aparentemente foi fato consentido. O gato gosta de diversão, apesar do Fábio negar.
Honestamente, se pudesse não teria deixado o Seu Farias fazer este papel, pois muita gente foi embora da festa depois disto. Alguns convidados disseram que ele parecia o Sidney Magal dublando o Fágner.

2 - Os dois rapazes travestidos eram pessoas sérias, e a brincadeira na janela não foi ofensiva. Os passantes aqui no Arouche adoraram a dupla vestida de Lady Gaga imitando a Vanusa cantando o Hino Nacional. Aplaudiram até.
Se o senhor tem alguma questão em relação ao fato de estarem travestidos, me parece uma certa homofobia, não? Vamos abrir a cabeça, senhor síndico?

3 - Os senhores que foram fotografados comigo são na verdade Menelau e Buchecha. O senhor deve lembrar da famosa dupla Claudinho e Buchecha. O Menelau se juntou ao Buchecha depois de se encontrarem numa mesa branca e o médium ter garantido que metade da alma do Claudinho tinha entrado no corpo do Menelau. A outra metade do Menelau estaria habitada pelo Bezerra da Silva. Sei que parece estranho, mas eles são respeitados na comunidade espiritualizada, e a versão que cantaram de "Vou apertar mas não vou acender agora" foi praticamente um Gospel...

4 - Sim, este senhor que foi encontrado no corredor abraçado a um peixe é meu pai, que voltava de uma viagem de barco e quis me fazer uma surpresa. Ele sempre gostou de uma cachaça moderada. O peixe é uma Sororoca excelente, que acabou estragando, em parte por ter ficado fora do gelo, mas também por ter sido esfregada em várias pessoas durante a apresentação do Seu Farias.
Meu pai já voltou para casa, ativamos o SAMU discretamente e as seis ampolas de glicose na veia fizeram relativo resultado no estado dele, nem foi necessária internação. Não vejo problema nenhum, não é verdade?

5 - Verdade, eu estava vestido de Barney, ganhei a fantasia e nunca tive a oportunidade de usá-la. Gostei tanto que estou com ela até hoje. Que eu saiba não há nenhuma restrição a vestimentas nas regras do prédio. 


De qualquer jeito, peço desculpas de algo tenha saído fora do planejado e tenha incomodado algum vizinho. O gato do Fábio está escondido dentro de minha lava-louças e prometo devolvê-lo assim que ele parar de tremer e me olhar de um jeito estranho.


Obrigado pela compreensão.

E agora? Tanto investimento para nada?

Pois é, meus caros, depois de cinqüenta anos de buscas em vão, parece que o tal Ponto G realmente não existe.
O médico que inventou esta baboseira já deve ter morrido, mas deixou como legado um número imenso de mulheres insatisfeitas, procurando em vão o tal ponto que daria mega super blaster prazer sexual. Isto sem contar com a cara de besta dos homens que resolveram proporcionar o tal prazer para suas parceiras.


Como sou ousado e invocado, resolvi investigar mais alguns pontos, para que a procura pelo Nirvana do Sexo não despareça, e os casais continuem insatisfeitos, sempre querendo mais...

Ponto She-Ra
Famoso apenas entre especialistas, o Ponto She-Ra só é acessado por pessoas que conseguem lamber seu próprio cotovelo. Parece que alguns homens já atingiram este ponto, mas não foi confirmado por minhas fontes.
A sensação é parecida com um eletrochoque de intensidade média e com alteração da visão (alucinações com roupas de gladiador e tigres coloridos). O único efeito colateral é que a voz modula, fica mais fina e parecida com voz de dublagem, gerando um estranhamento na pessoa, que acha que já ouviu aquela voz em algum seriado ou no filme dos Goonies.

Ponto Ben Dez
Depende muito da capacidade do parceiro, pois só acontece no 11º orgasmo feminino da noite. Isto obriga o macho a estar preparado para a longa empreitada. Alguns casais comentaram que Amendoim e Ovo de Codorna não são recomendáveis, pois a intensa atividade física faz com que a digestão estimule gases perigosos que poderão desconcentrar o casal lá pela 4ª ou 5ª tentativa.

O Ponto Curupira
Algumas praticantes de modalidades exóticas de sexo já conseguiram chegar lá, mas há queixas de dores no processo, em especial na hora de entortar os dois pés para trás. Uma das técnicas mais usadas é apoiar as duas pernas nos batentes da porta, se apoiar com as mãos e empurrar o peito para a frente. Se conseguir virar os dois pés, ande de costas e dê três voltas pulando ao redor da cama (pode ser ao redor da mesa, o efeito é o mesmo). O prazer vai chegar quando você começar a ouvir a música do Sítio do Picapau Amarelo.

O Ponto Mula Sem Cabeça
Só funciona em algumas mulheres. É gerado estranhamente por leituras de Leibniz em voz alta. Espinoza também serve. Algumas mulheres experimentaram intenso prazer ao ouvirem homens fanhos lendo Derrida.
O efeito é semelhante ao fenômeno Pastel de Vento: Ao ouvir textos complexos a cabeça deste tipo de mulher expande e esquenta. Quando o parceiro morde, sai aquele bafo pelando e gera um alívio prazeroso na parceira. Ainda não foi investigado o local específico a ser mordido, portanto, vamos pesquisar!

Mundo Animal - A Paixão pelos Pets

O universo ama bichinhos de estimação. Eles aparecem em todos os lugares e são fonte de diversão de trilhões de pessoas. Eu particularmente adoro, são companheiros e estimulam nossa necessidade de cuidar de algo. Faz bem para a saúde.

Mas o pessoal está abusando.

Já viu dono de animal botando roupinha nele? Não porque está frio, mas para deixar mais "fofo".

E aí posta a foto no Facebook.

Gozado que ninguém acha um abuso este tipo de coisa. Cheio de defensor de animais e deixam o maluco botar cueca de oncinha no Pug. 

E gente que dá selinho no Pet? O que é isto? Será que o cara escova o dente do bicho?  Não é projeção demais num animal?

Eu beijo amigos e amigas, mas na bochecha, se não dou selinho em amigos por que daria num porco, ou num bode?

Eu adoro porco,por sinal, mas e estes caras que ao invés de botarem o bicho no forno resolvem sair para passear com eles? Levar para dar banho, estas coisas. Por sinal como se tosa um porco? Botar lacinho...

Que afeto o porco deve dar? Olhar com carinho e fazer "Óinc" ?

E os lagartos? O bicho nem sangue quente tem, que "troca" existe? O bicho vai buscar o jornal na porta? Canta? Dança? O bicho não faz nada! Só morde a ponta do seu dedo, que provavelmente vai infeccionar.

Pode parecer que sou contra os pobres animaizinhos, mas não sou não. Sou contra as projeções que se fazem nos animais (e nos humanos também, vide as relações complicadas que temos no dia-a-dia). 

Ter um bicho e projetar um universo de sentimentos não relacionados ao fato de cuidar, ter afeto e conviver parece ser uma das loucuras contemporâneas. 

Mantenha uma relação saudável com seu animal de estimação. A Natureza agradece.

A fauna do escritório ( Zoológico Corporativo)

O escritório é um lugar cheio de tipos interessantes. Já viu alguns destes no seu trabalho?

O Experiente
Tanto faz o que você está fazendo, o Experiente já fez aquilo um milhão de vezes e quer te convencer que o seu jeito de fazer está errado.
Ele  nunca está aberto ao novo, nada é novo na vida. Ele acha que tudo que existe no planeta está associado à sua vivência profissional.
Um bom modo de reconhecer o cara é quando ele cita o nome de uma empresa importante (pelo menos para ele) e uma história que ele já viveu nesta empresa.
"Quando eu era coordenador do centro de restauro de máquinas de escrever em Birigui já passei por isto..." E dá-lhe história.
Ah, ele não se oferece para ajudar, ele vai ficar olhando você resolver o problema com um olhar de sarcasmo, como aquelas pessoas na rua que ficam olhando pro motor do seu carro quando ele quebra.

O Tarado
Nunca se compromete, mas está sempre de olho. Como estamos em tempos de Assédio Sexual (cana e grana), o Tarado fica sempre à espreita, em busca de um ângulo de decote interessante. 
Uma boa maneira de reconhecê-lo é abaixar para pegar uma coisa. Ele sempre estará por perto, é um espião corporativo das anáguas alheias.

Se for pego no flagra, vai dissimular e sempre terá uma boa desculpa para estar escondido no banheiro feminino e ter deixado casualmente a máquina fotográfica deslizar para dentro do seu box enquanto você estava fazendo xixi.

O Jedi da Tecnologia
Específico da área de TI, este profissional não se acha o detentor dos conhecimentos tecnológicos, ele vive a vida desta maneira. Além de usar todos os aplicativos disponíveis do seu Android (ele despreza o Iphone, óbvio, e tem uma relação de culto ao Google), na mochila dele têm inúmeras ferramentas estranhas para poder consertar computadores e aparelhos eletrônicos. Curiosamente os consertos nunca dão certo, e ele culpa alguma atualização do software ou algo do próprio aparelho para não assumir que ele não está com toda a bola que imaginava estar...

O Sentado
Este é um cara curioso do escritório, parece que foi projetado param encaixar numa cadeira e ficar. Sua ergonomia é diferente, e gradativamente seu corpo assume uma postura complementar à cadeira de escritório. Se pudesse botava uma sonda para não precisar ir ao banheiro.
Sempre come uma marmita, de preferência na própria mesa, sem esquentar.
Para descobrir o Sentado, basta jogar uma caneta a meio metro de distância dele e pedir que ele pegue. Se ele arrastar as rodinhas e chutar a caneta na sua direção, ele é um Sentado!

O Mongaguá
Um dos meus preferidos, o Mongaguá é aquele tipo que vende seu estilo de vida como se fosse a coisa mais chique e estilosa do mundo. Curiosamente ele nunca fala diretamente, mas deixa frases soltas no ar.
"Praia é bom demais..." e fica olhando para você, esperando que você diga : "Você foi para a praia?" Aí o cara se realiza. Olha com aquele olhar de superioridade, sorriso no canto dos lábios e diz:
"Pois é, minha tia avó tem um primo que tem um loft (na verdade um puxadinho)  onde eu guardo minha prancha (de isopor) e levo umas amigas para curtir (a tia avó, duas amigas de 70 anos e uma sobrinha de 5 anos).
Fácil de reconhecer, basta perguntar onde ele mora. A resposta sempre vai ser um bairro nobre. Pergunte mais detalhadamente e vai descobrir que é lá que ele faz baldeação do ônibus, a casa dele é uns 15Km para frente...

O que fazer com gente que têm Mau Hálito?

O Mau Hálito é um dos piores inimigos da vida em sociedade. Principalmente para aquelas relações íntimas, com pessoas com quem conversamos de perto.


Um padre, na hora da confissão. Você lá, abrindo a sua alma, e aquele cheiro de bueiro saindo da janelinha... Vai fazer o quê? Parar com o mea culpa e dar uma balinha de menta pro sacerdote? Continuar falando sem parar para evitar que ele faça comentários e venha aquele cheiro? Mau Hálito é o inferno...


Tive uma experiência impressionante durante uma viagem de ônibus para Buenos Aires (sim, eu e um amigo resolvemos economizar uns 50 reais e passar vinte horas na estrada ao invés de chegar em três horas de avião... todo mundo faz uma merda destas na vida). Estávamos sentados atrás do Mister Usina de Compostagem, o bafo mais fedido que senti na vida. Só para se ter uma ideia, o filho dele estava conversando, e o cara falava "Si, claro", só isto, e o ar ficava pestilento, impossível de respirar. Isto porque ele estava sentado a quase um metro de distância!
Em pouco tempo o Mister Compostagem dormiu, e ele roncava soltando bafo! Como estava frio os vidros estavam todos fechados: o ônibus começou a se transformar numa pequena bomba de gás prestes a explodir. Tipo fogo fátuo no cemitério, sabe?


Na primeira parada o filho do cara ficou dormindo e o fedido desceu para ir ao banheiro. Acabou demorando, e o motorista voltou. Olhou para todo mundo e perguntou: Está faltando alguém? Todos os passageiros olharam com cara de inocentes (todos) e disseram "Não, seu motorista, pode ir embora". E o ônibus deixou o fedido para trás.
Infelizmente o filho dele acordou meia hora depois, e começou a chamar "Papá, donde está Papá?", e lá fomos nós resgatar o gerador de inhaca volátil...
Foi uma viagem horrorosa, em suma.


Precisamos desenvolver um código sutil para avisar que a pessoa tem bafo. Não sei direito qual poderá ser, talvez um gesto ou uma maneira especial de aperto de mão.  Principalmente pois todo ser que tem mau hálito gosta de conversar olho no olho, já reparou? Ele te puxa em direção da zona de perigo, faz contato visual e solta a halitose... Será que ele tem orgulho disto? Mistérios gasosos...

Perfeito para um novo Meme!!

Amigos criadores de Memes! Oportunidade única, a foto é perfeita! A expressão captada pelo fotógrafo é absolutamente Teatro Chinês, aqueles monstros que você não sabe se é para rir ou para ter medo. O que lembra? Basicamente uma besta enfurecida!
O mundo virtual agradece a confusão do mundo real!

Eu te conheço? De onde mesmo? Que foto é esta?

Uma das coisas estranhas do Facebook é que tem uma hora que você não sabe mais se conhece ou não uma determinada pessoa. Você olha a foto (ela mudou? cortou o cabelo? trocou a foto do perfil?), vê um comentário no timeline e não tem a mínima ideia de quem seja aquele tipo.


Robin Dunbar, pesquisador, chegou a um cálculo que nosso círculo real de amigos beira as 150 pessoas. Parece muito, mas em tempos de redes sociais, é um número modesto. Há outros pesquisadores que expandiram o número de Dunbar para uns 200 amigos, mas ainda sim é pouco se compararmos com a quantidade de pessoas que conhecemos em diferentes ambientes.


Outro fator curioso é que redes sociais no Brasil têm suas particularidade. Brasileiro deu "oi" na rua e já adiciona como amigo no Facebook, diferentemente de outros povos não latinos. Assim, gente que você conheceu numa viagem para Mongaguá há cinco anos hoje aparece na sua timeline comentando assuntos que muitas vezes você não tem noção do que esteja acontecendo.

Alguém aí conseguiu se encontrar na época em que todo mundo trocou fotos do perfil por personagens de desenho animado? Além das curiosidades, como uma conhecida de 1,90 de mais de sessenta anos colocar a foto da Sininho no perfil (como é interessante a auto-percepção), como saber quem é? O rosto ajuda muito no processo de reconhecimento, nossos neurônios espelho usam e abusam do reconhecimento facial para saber quem são as pessoas e entender seus sentimentos. Olhando para a Sininho de vendo um nome de uma pessoa acabo me perdendo, sem saber quem é ou qual a relação que tenho com ela...

O Lado B de São Paulo

Lado B, para quem não é da época do vinil, significa o lado menos interessante das coisas. Muita banda tinha de inventar música para poder "rechear" uma bolacha inteira, e nem sempre as melhores músicas ficavam no fim do disco. Daí o termo "Lado B".


Hoje fui correr, como sempre, e aproveitei para passear por caminhos ainda não conhecidos pros lados da Cracolândia. Pode parecer maluquice correr no centro de SP, mas é uma experiência única.
Salvo o cheiro, nem sempre agradável, há praças e prédios lindos. A praça em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus é linda, e a igreja é incrivelmente bonita. É uma região que está isolada, no meio do caos em que se tornou o baixo centro.

Nem tudo está perdido, e nem todos os lugares do centro são horríveis ou destruídos, mas parece que morar no centro é coisa exótica. Um amigo me disse: Você deveria escrever mais sobre esta sua experiência de morar no centro...


Aí fiquei pensando: Por que? O que faz esta experiência tão diferente nos dias de hoje?


E a resposta é simples: Conviver com o diferente e com as diferenças é cada vez menos valorizado na prática, apesar de toda lenga-lenga teórica que ouvimos por aí. Falta prática para a classe média conviver com o diferente. Só quando faz redação na escola e propõe projeto social.


Isto não significa que assistir uma blitz policial seja "normal". Na minha corrida de hoje vi meia dúzia de policiais suando para controlar vinte nóias perto da Santa Ifigênia. Mas sei que a classe média está mais preocupada em que os nóias não cheguem perto dos condomínios fechados onde habitam do que tentar resolver o problema. Parece que os "outros" são o problema, por isto que ainda hoje quem é o grande cronista do pensamento (e da sordidez) da classe média seja o Nélson Rodrigues.
Como disse um sábio taxista, "Meu filho é Viciado, o filho dos outros é Dependente Químico".


Que tal o movimento "Ocupa São Paulo" se transformar em "Viver São Paulo"? A cidade é linda, mas enquanto as pessoas não reocuparem os espaços públicos, não adianta reclamar, eles vão continuar abandonados. Parece óbvio, mas não é.

O Pior porre que eu já vi (e participei)

Uma vez estava tomando cerveja com um amigo escultor num boteco ao lado de uma rodovia. Do nada surgiu um cara todo animado gritando: "Tombou um caminhão cheio de bebida na estrada!"

O bar ficou vazio em segundos, todos os bebuns resolveram ver se dava para salvar uma bebida grátis no final da noite.

Eu e meu amigo nos animamos e corremos também. Ao chegarmos no local, realmente estava cheio de bebida na estrada, mas era um carregamento de Underberg. Para quem não sabe, é um digestivo (vinho azedo) feito de mais de 40 ervas diferentes, amargo, horrível.  Aquelas bebidas que o pessoal toma um cálice pequeno (honestamente não sei por que) antes da refeição. 

Pegamos duas garrafas, para não perder a viagem, e fomos para o sítio de meu amigo para tomar aquela bosta. Pois é, numa certa idade você toma tudo, qualquer programa de índio, está valendo!

Botamos gelo, fizemos o diabo, mas o negócio era intragável. E a gente ia beber aquela lavagem, tinha de beber!

O único jeito foi misturar com Coca-Cola, transformando o drink num tipo de "Serra Leoa Libre", versão mais tóxica da Cuba Libre. No quarto ou quinto copo estávamos absolutamente loucos. Não estávamos bêbados, estávamos transtornados, zóio virando e o cacete. Para se ter uma ideia, com a falta de  comidinhas para acompanhar pegamos um pacote de ração de gato e comemos. O negócio foi feio.

Lá pelas tantas resolvemos nadar no açude. O fato de estar um frio glacial e de ser mais de meia-noite não nos impediu de tirar a roupa e sair andando no meio do mato para um mergulho refrescante. Por que não, afinal de contas?

Quando chegamos, meu amigo, mais animado que eu, saltou dentro do açude e afundou até o tórax na lama. Ele olhava para mim com o olho que ainda conseguia focar e dizia: "Socorro, eu vou morrer, é areia movediça, não quero morrer..."

Como eu sei que areia movediça só tem no filme do Tarzan, tentei desentrolhar meu amigo da lama. Depois de um certo tempo o cara saiu, como uma rolha de espumante. Voltamos menos animados para casa, meu amigo coberto de lama, ambos em estado lamentável.

A animação deu lugar a um estado mais depressivo, e resolvi dormir. Fui avisar meu amigo que ia deitar e encontrei o cara dormindo abraçado na pia, com uma das lentes de contato na mão. Dormiu daquele jeito mesmo. Não consegui socorrer. O cara estava todo enlameado, pelado, emborcado na pia. Amizade tem limite!

Tive uma azia tremenda e sonhei com gatos a noite toda. Acordei com uma das maiores ressacas de minha vida e fui ver o cara. Surpresa! Ele não estava no banheiro! Mas lá encontrei um, como direi, "resíduo" dele. Olhei para ver se não era lama, e não era lama. O cara relaxou e se borrou todo... Aí vi que tinha um "rastro" indo na direção do quarto dele. Quando entrei tive a mesma sensação que os policiais tiveram quando entraram naqueles buracos na Cracolândia, sabe? Um cheiro horrível, o cara todo sujo, enrolado num cobertor, show de horror... 

Acordei o cara e mostrei o rastro e o estado do banheiro. Ele olhou para mim surpreso e disse: "Uai, quem deixou os cachorros entrarem?". Aí tive de explicar que tinha sido ele. Ele nega até hoje.

Esta foi minha experiência com Underberg.  Cá entre nós, evitar não custa nada! Se alguém oferecer uma dose maior que um dedal, não beba, vai por mim...