Assistindo o ensaio de Ballet Clássico de minha filha fiquei pensando: Como é intrigante esta coisa da dança, das pessoas tentarem o impossível.
Uma das regras básicas da vida é aceitar a força da gravidade. Quando jogamos coisas para o alto, elas caem. E quando pulamos, voltamos depois de um certo tempo para o chão.
Curiosamente o Ballet Clássico tenta contrariar esta regra básica. Os bailarinos ficam na ponta dos pés, tentam alçar vôo. Aí me perguntei: Será que eles não sabem que por mais que tentem a lei da gravidade ainda vai puxa-los para baixo? Por que esta insistência em tentar algo que não vai conseguir? Algo impossível?
E aí me dei conta que fazemos este tipo de coisa o tempo todo. Que não nos contentamos com o que temos, com a vida que vivemos, e por mais que saibamos que existem coisas impossíveis, vamos lá, tentamos o impossível. Só que no Ballet há uma luta contra algo visivelmente inatingível.
Não sei se algum filósofo já refletiu sobre o patético, mas acredito que é algo a ser investigado filosoficamente... Mas sei que a Arte trata do assunto, e para mim a primeira pessoa que vem na cabeça é o Kazuo Ohno, e seu Butoh. Há algo de patético e frágil na existência. É diferente da Tragédia Grega, que é bela quando trata da impossibilidade de fugir de seu próprio destino. Se na Tragédia a orientação da vida, para onde nos destinamos, é o grande tema, nossa trajetória, independentemente para onde vamos, têm algo de patético.
Platão conta em algum de seus livros a história de um belo e forte guerreiro de Atenas que vai para a guerra no anseio de morrer belo e jovem, em combate. E quando chega lá, é acometido de uma diarréia que impede que ele lute, e ele é obrigado a voltar, todo borrado, para casa. E esta seria uma grande humilhação, ele fora traído pela sua condição humana.
Este tipo de coisa acontece o tempo todo no nosso dia-a-dia. Somos confrontados com nossas limitações, com nossas fragilidades, enquanto tentamos parecer grandiosos, inatingíveis ou superiores.
Assumir a impossibilidade de nossos objetivos, ou assumir o quanto agimos de forma débil e errática nos faz lembrar que somos humanos, que não nos foi dada a possibilidade de sermos como os deuses.
É na tentativa de voarmos mesmo sabendo que não temos asas que nossa complexidade existencial se revela, de forma sublime e ridícula ao mesmo tempo.
1 comentário:
Tentar o impossível é patético e Não tentar o possível é o que?
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