Let´s Go!

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16.11.13

Por trás de todo revolucionário existe a alma de um ditador

Tenho 46 anos, e pude acompanhar muitos movimentos sociais desde os anos 1970. Participei de marchas e protestos ainda pequeno, levado pela minha mãe, professora politicamente engajada e contra a ditadura. Corri de cavalo, de bomba, invadi o Palácio dos Bandeirantes... desde sempre. Mas nunca me orientei politicamente como Socialista, Comunista ou as variadas opções ao capitalismo da época. Sou um democrata. Lembro de uma frase que dizia que "a democracia é o menos pior dos sistemas políticos". Concordo com isto.
Estava em São Bernardo do Campo no estádio de futebol quando o PT foi lançado, o Lula em cima do palanque. Estava no Anhangabaú no Diretas Já. Participei de movimentos políticos estudantis na FFLCH. Fui com alunos para as ruas no Fora Collor. Participei de praticamente todas as manifestações de julho e agosto deste ano, e observo com atenção as novas configurações de manifestações, balck blocs e etc.

Não odeio o PT, não odeio petistas, não admiro o PSDB e acho uma grande falácia enxergarmos estes dois partidos como politicamente em conflito. A Social Democracia é muito semelhante nos dois casos. Uma vez ouvi alguém dizer que nossa época vai ser marcada pelo governo FHC/Lula, há muita semelhança e complementaridade no que fizeram. Um não faria sentido sem o outro.

O mensalão, ou qualquer outro tipo de manipulação do processo democrático (desde o antigo voto de cabresto, coronelismo, dar um chinelo pro cabra e se o candidato ganhar dar o outro par, etc) é errado. Não há como negar. Comprar votos com dinheiro ou com qualquer outro tipo de recurso visando alterar uma votação é errado. Ponto.

Justificar um erro apontando os erros dos outros é infantil, quem tem filhos sabe disto, crianças fazem isto o tempo todo, apontarem para o outro para minimizar sua culpa.

Acho que no fundo o problema é a existência de um "Projeto". Parte das pessoas que foram presas hoje pelo mensalão tinham um "Projeto".  Algo fixo, quase um mantra, onde se apoiam para definir o que é bom para si mesmas, para os outros, para um país ou para o mundo. Tenho certeza que o Genoíno tem um "Projeto", e acredita nele. Acredita tanto na importância de seu "Projeto" que não vê problema em quebrar algumas regras, contanto que se chegue mais perto do "Projeto".

Todo revolucionário tem um projeto. E acha que as pessoas que não comungam de suas ideias ou são pouco esclarecidas e precisam ser lideradas ou são opositoras de seu "Projeto".

Quando eu estava no Centro Acadêmico da FFLCH conheci um cara, de uma vertente dos movimentos da época chamada Libelu (Liberdade e Luta), acho que trotskistas.
Rolou uma greve e manifestações na USP e num determinado momento um grupo decidiu bloquear a entrada da USP com uma barreira de pneus. Para dar um toque mais dramático, tiveram a ideia de jogar gasolina e atear fogo nos pneus. O tal cara que eu conheci era o responsável por jogar a gasolina e acender o fogo.

Tudo pronto para o evento, o cara foi até lá e jogou a gasolina. O chão ficou todo encharcado, como os pneus.  Uma moto estava passando no local e o motoqueiro perdeu o controle por causa do chão cheio de gasolina e se esborrachou no meio da pilha de pneus.

O cara que eu conheci estava com a tocha na mão, pronto para tocar fogo, quando viu o motoqueiro no meio da pilha de pneus. Foi aí que pensou "A vida de uma pessoa vale perder o momento histórico desta manifestação? Será que uma vida vale mais que o movimento?"

E o cara desistiu de jogar a tocha. E entrou em crise com o movimento.

As pessoas que estão sendo presas hoje não desistiram de jogar a tocha, acreditam no "Projeto" mais que tudo. Mesmo que alguém arda no fogo ateado por eles. O "Projeto" é mais importante.

Eu estou com o grupo que entra em crise e que não joga a tocha. Nenhuma tocha vale a vida de uma pessoa. Se é que vocês me entendem.


13.11.13

O Discreto charme da Velha burguesia

Nunca assisti "O Discreto Charme da Burguesia", do Buñuel, mas sempre achei o título do filme fascinante. (Não vou me dar ao luxo de falar sobre um filme que nunca vi, mas vou me apropriar do título que me encanta e faz pensar).

Concordo com a interessante maneira de abordar da Marilena Chauí feita durante um encontro na FFLCH (o vídeo está abaixo), mas no dia de hoje estou matutando sobre outra coisa: Sobre o tédio que aparentemente exala da Velha Burguesia nas relações interpessoais.


Muitas pessoas me consideram um cara arrogante pela minha maneira de falar ou de me posicionar numa conversa ou debate. O que descobri desta minha postura é que ela reflete uma convocação do interlocutor para uma arena comum: A da relação. Debate é conflito, e conflito é relação.

Mas o que fazer perante o tédio do outro? Como debater ou interagir quando a pessoa com quem conversa está plenamente sentada dentro do seu mundo, de suas convicções, valores, etc?

Descobri que tenho muita dificuldade em situações como esta. Mais do que ficar sem saber o que fazer, fico me perguntando "O que estou fazendo aqui?"...

A Velha Burguesia, que a Chauí chama de Classe Média, se apropriou do tédio que via exalar dos nobres dos filmes em preto e branco. Dum cansaço que parece dizer "Não adianta tentar, não pretendo sair daqui do meu trono para nada, nem que o apocalipse zumbi aconteça na minha porta". Fica aquela sensação de que a Velha Burguesia precisa, desesperadamente, deixar claro que há uma distância entre classes sociais, ou pelo menos entre você e ela.

A Velha Burguesia é, antes de tudo Velha. Se blindou para aquilo que está ao seu lado. Talvez por isto goste tanto de "pobre", ou de cultura "roots", pois está tão distante de sua realidade (ela acha) que não oferece perigo ao status que ela conseguiu e que usa para se distanciar dos demais.

Da mesma maneira que os nobres dos filmes velhos, entediados e solitários em salões cercados pelo vazio, a Velha Burguesia tende 'a extinção. Mas de uma maneira bem lenta e tediosa...