Let´s Go!

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5.3.11


Embriagados pelo Virtual

O virtual abre as portas dos limites, e o desejo se torna mais poderoso que as amarras da sanidade

Estou acompanhando com um certo distanciamento da discussão sobre a tal "Geração Y", o que ela quer, para onde vai etc.
Não que eu discorde absolutamente do que está sendo dito, mas tenho minha visão particular sobre esta primeira geração nascida sob a égide (oba, primeira vez que consigo enfiar esta palavra num texto!) da Internet.
A Internet se tornou a arena da Opiniocracia, todos opinam sobre tudo, debatem sobre questões complexas e também sobre o novo corte de cabelo do jovem astro adolescente pop. Todo mundo comenta, e comentar é melhor que analisar, ou pelo menos é mais fácil. Temos até uma certa repulsa brasileira em analisar, que está fortemente asssociado às "elites" tão combatidas pelo nosso ex-presidente Lula. Melhor opinar, é mais autêntico, original, e dá para mudar de ideia depois, sem dores.

Esta cultura da exposição virtual (mostramos fotos constrangedoras pela Internet com menos pudor que trocamos de roupa de janela aberta) faz parte do mundo dos jovens de 20 e poucos anos de hoje. Muitos deles praticam sexting (mandar fotos ousadas pelo celular) mesmo sabendo do risco de que elas caiam na boca do povo depois. Outros escrevem sobre assuntos tão íntimos que não teriam coragem de falar sobre eles ao vivo nem com seus terapeutas.

Como quando bebemos, a Internet possibilita um "destravamento" da língua, falamos à vontade pela falsa sensação de que estamos sozinhos. Afinal de contas, a experiência online ainda é intermediada pela máquina, numa relação de um para um. Mesmo quando estamos online e conversando com várias pessoas, fisicamente estamos sozinhos.

O que acontece é que este "destrave" acaba migrando para o universo real. Passa-se a falar livremente, como quando perdemos os pudores e falamos "verdades" quando estamos embriagados, ou, como se fala, "fora de si". Este estado de descontrole poderia ser definido por alguns como um estado de loucura, afinal de contas a sanidade está associada à refrear os desejos e controlar vontades. A sanidade é, definitivamente, tanática, ela faz parte de nossas tentativas de obstruir os desejos e manter certo equilíbrio. O desequilíbrio sempre está associado à loucura.

Desta maneira, com a liberalização dos costumes em decorrência de uma cultura do virtual, nossa sociedade acabou se apropriando deste torpor, desta liberalidade opinativa, e passamos a agir de maneira menos consequente que há pouco tempo atrás.

Este estado "embriagado" não necessariamente traz felicidade, nem é melhor ou pior que outros estados, mas é uma novidade em termos sociais. O grande desafio é lembrar que as pessoas convivem, e as gerações anteriores não estão no mesmo estado em que a geração pós-internet, sendo assim, o que fazer? Estamos diante de um clássico conflito de gerações ou simplesmente vivenciamos um momento de transição?

Como disse, não vejo problema nenhum, apenas um: O que fazer quando acabar a bebida? Ficaremos como disse Baudrillard num estado de pós-orgia, numa ressaca existencial? É ver para crer.