Um dos maiores problemas que tive (do ponto de vista gastronômico) foi quando resolvi fazer "limão mumificado". É uma receita marroquina onde você enterra alguns limões sicilianos no sal grosso e deixa desidratando dentro de um pote por meses. A casca fica muito aromática e é utilizada para vários pratos daquela região.
Pelo que percebi, o ambiente familiar não é local para experiências como esta. Todo o dia algum componente da família irá passar pela cozinha, olhar aquele pote e fazer algum comentário sobre se aquilo não está apodrecendo, ou coisa do gênero.
Meses depois, e agora com uma coloração estranha, você resolve usar o tal do limão. É uma sensação! Crianças correrão ao redor da mesa, vão cheirar e fazer cara de nojo, vão querer segurar um pedaço com a ponta dos dedos enquanto fazem barulhos estranhos e andam na ponta dos pés.
Quando temperar o frango com aquilo, todos olharão surpresos para você, pois ninguém botou fé que aquilo era real. Achavam que era mais uma esquisitice sua, tipo um hobby, como botar uma cobra no álcool e ficar olhando.
O sabor é uma delícia, aroma intenso de limão, mas gosto suave, muito interessante. E é bom que esteja gostoso, pois você vai comer sozinho aquele negócio, ninguém vai se animar a comer algo daquele pote saído do Mundo de Beakman. Quer fazer limão mumificado? Prepare-se para comer sozinho e ser ridicularizado por alguns meses.
Ah, não se espante se um dia entrar na cozinha e o pote ter desparecido. Sua empregada irá decidir pelo extermínio de seu tempero, alegando insanidade mental. A sua, é claro.