Let´s Go!

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21.6.12

Receitas Malditas - O Limão Mumificado

Ninguém aprende a cozinhar de uma hora para outra, portanto, todo mundo em algum momento já sofreu um vexame culinário. Ou vários.

Um dos maiores problemas que tive (do ponto de vista gastronômico) foi quando resolvi fazer "limão mumificado". É uma receita marroquina onde você enterra alguns limões sicilianos no sal grosso e deixa desidratando dentro de um pote por meses. A casca fica muito aromática e é utilizada para vários pratos daquela região.

Pelo que percebi, o ambiente familiar não é local para experiências como esta. Todo o dia algum componente da família irá passar pela cozinha, olhar aquele pote e fazer algum comentário sobre se aquilo não está apodrecendo, ou coisa do gênero.
Meses depois, e agora com uma coloração estranha, você resolve usar o tal do limão. É uma sensação! Crianças correrão ao redor da mesa, vão cheirar e fazer cara de nojo, vão querer segurar um pedaço com a ponta dos dedos enquanto fazem barulhos estranhos e andam na ponta dos pés. 

Quando temperar o frango com aquilo, todos olharão surpresos para você, pois ninguém botou fé que aquilo era real. Achavam que era mais uma esquisitice sua, tipo um hobby, como botar uma cobra no álcool e ficar olhando.

O sabor é uma delícia, aroma intenso de limão, mas gosto suave, muito interessante. E é bom que esteja gostoso, pois você vai comer sozinho aquele negócio, ninguém vai se animar a comer algo daquele pote saído do Mundo de Beakman. Quer fazer limão mumificado? Prepare-se para comer sozinho e ser ridicularizado por alguns meses.
Ah, não se espante se um dia entrar na cozinha e o pote ter desparecido. Sua empregada irá decidir pelo extermínio de seu tempero, alegando insanidade mental. A sua, é claro.

18.6.12

Dilema: Concorrer a dois milhões de reais ou ir ao funeral da irmã assassinada?

A princípio parece um dilema simples, já que todas as pessoas diriam que preferem ir se despedir de sua irmã. Não haveria dinheiro que comprasse o sentimento de ausência e de falta de solidariedade com o resto da família. Mas no mundo de hoje a questão parece ser mais complexa.
Ângela Bismarchi, uma modelo (ou sub-celebridade, como alguns dizem), teve sua irmã assassinada numa briga entre o atual e o ex. Uma triste história que ainda acontece pelo mundo. E isto aconteceu no momento em que a modelo está isolada num reality show. Se ela sair, perde a chance de concorrer ao prêmio. Se ficar, não pode ir ao enterro da irmã.


É um dilema recente, de nossa modernidade (ou do mundo contemporâneo, como quiserem). O primeiro indício deste tipo de situação que me lembro acontece no filme A Montanha dos Sete Abutres, onde Kirk Douglas é um repórter de um jornal sem projeção que é chamado para acompanhar a história de um homem que está preso numa mina e percebe que esta é a notícia que pode fazê-lo ficar famoso.


Por que é tão importante ficar famoso nos dias de hoje? Qual a razão que faz com que as pessoas invistam tanto em "popularidade"? Quando eu este fenômeno em filmes e seriados americanos antigos não parecia algo tão relevante na época, mas hoje isto reflete a sociedade ocidental como um todo. A frase do rapper 50 cent "Get Rich or Die Tryin" poderia ser alterada para "Get Famous or...", pois esta é a questão de hoje.


Por mim, a grande problemática social de nossa sociedade é o sentimento de anonimato. O esvaziamento da vida privada em detrimento de uma vida social intensa aguça a necessidade de sermos alguém para muitos, e não alguém para nós mesmos e nossos entes e parentes. Ser importante é o que importa.


Apesar de o dilema moral colocado no título deste post estar relacionado ao dinheiro, o que se torna evidente é que não tem nada a ver com ele. A tal modelo não é uma pessoa que precise de dinheiro, é casada com um bem sucedido cirurgião plástico (que a remodelou em mais de 40 cirurgias, quase como o criador e criatura do livro Frankenstein). Ela precisa ser popular, a todo custo.


A popularidade, neste sentido, é mais cruel do que o trabalho, já que grande parte das pessoas aceita o trabalho como um fardo e sonha com o dia em que poderá ficar sem fazer nada (outra ilusão). Já a popularidade é diferente, pois a grande maioria das pessoas não quer ser famosa num dia e depois cair no ostracismo. Ninguém quer ser esquecido, e isto move o mundo das sub-celebridades, que estão próximas da fama, e não querem voltar para o buraco de onde vieram.


Vale a pena acompanhar os desdobramentos desta história, ela é parte de algo íntimo de cada um: Como conciliar desejo e responsabilidade?

17.6.12

Quem te interessa no mundo digital?

Coisas da vida: Descobri quase por acaso que estava acompanhando histórias de pessoas que praticamente não conhecia no Facebook. E dá-lhe receber convites de jogos sociais, fotos de festas estranhas e mensagens pré-fabricadas por perfis genéricos.
Do ponto de vista de análise comportamental, tudo bem. Dá para compreender bastante as coisas observando os seres humanos em geral. Mas quanto tempo este tipo de atividade requer? É aí que me vi mergulhado num universo genérico.
Acompanhava questões que não eram relevantes e que me custavam um tempo precioso, necessário a outras coisas da minha agenda. Redes sociais são um assunto importante, mas Coluna Social de semi-desconhecidos é outra coisa. E como dá um certo trabalho configurar direito a conta do Facebook, lá vamos nós observar a enésima garrafa de cerveja com três desconhecidos atrás dela, num bar qualquer.
O que isto me acrescenta? Só a percepção de que estou gastando tempo com informação pouco relevante.


Antigamente dava para sentar numa praça e ver a vida passar, afinal de contas eram algumas dezenas de pessoas que passariam por ali. No Facebook são milhões de pessoas, em breve bilhões. Não dá para acompanhar todo mundo, nem faz sentido isto.


De vez em quando fica a sensação de que seguimos o fluxo e não determinamos aquilo que é relevante para nossa vida. Deixar rolar, fazer fluir, todos os sinônimos de que o barco está a deriva. Na nossa rede social é a mesma coisa. A vontade de participar de tudo que está minimamente próximo faz com que fiquemos distantes da nossa própria timeline, e não estou falando da timeline que o Facebook atribuiu ao nosso comportamento, mas sim aquela que define a nossa passagem pelo planeta e que pode nos permitir ser mais ou menos feliz neste rápido trajeto que chamamos de vida.


Nem todas as informações são essenciais, como também nem todas as pessoas são especiais na sua vida. Ao invés de dar atenção por segundos a inúmeros desconhecidos, que tal dar alguns minutos de atenção para pessoas que são importantes na sua vida?