Três situações muito desconectadas me fizeram refletir um pouco sobre a empatia. Do ponto de vista neurológico um fenômeno aparentemente regido pelos neurônios-espelho, mas que precisam de muito estímulo para construírem as redes neurais e referências. Só assim a memória poderá utilizar este recurso, que é tentar se colocar no lugar do outro.
É da empatia que saem o altruísmo, o aprendizado, a generosidade, o riso, a felicidade. Não é pouca coisa, nem de pouca relevância. São coisas fundamentais e que almejamos, pelo menos boa parte da humanidade, em nosso cotidiano.
Lembro do Kevin Carter, fotógrafo premiado de guerra, que registrou misérias pelo mundo afora, mas ficou conhecido pelas fotografias na África.
Lembro da parte final (e ficcional) de A Lista de Schindler, quando Oskar Schindler têm um sentimento de profunda tristeza quando pensa que poderia ter salvado mais judeus, que poderia ter tentado conseguir mais dinheiro.
Observo o estranho comportamento dos babuínos num Zoológico da Holanda que, de tempos em tempos, ficam em um estado de apatia, paralisados, sem comer, sem fazer nada. E mesmo com todos os tratamentos possíveis não se sabe como resolver ( solta-los na África não é uma solução, querido ecochato. O pessoal vai comer os bichos, e a maioria vai morrer. Não há um ambiente adequado, intocado pelas mãos dos homens. O conceito de Santuário de Animais é uma derivação do Paraíso Cristão, e se bem lembram, Adão e Eva já comeram o fruto proibido, não dá para voltar atrás.)
E aí, quando vou na feira, comprar verdura, olho bem nos olhos das pessoas e vejo um mundo de pessoas cansadas, tristes, tensas, meio destruídas pela vida. Como os babuínos.
Kevin Carter se matou de depressão, ao ter registrado tantas mazelas e sofrimentos, não aguentou. Oskar Schindler (o ficcional) percebe que o mundo é grande demais para o cobertor que ele pode dar, e sofre por ajudar, ao invés de se sentir um herói.
Ao observar os babuínos percebemos que nossa capacidade de tentar manter a vida e o ecossistema é restrita, e que muito do que vemos hoje de fauna e flora não estará mais presente no planeta para a próxima geração.
Empatia aparentemente é algo que devemos valorizar, mas ela é um fardo terrível. Quem se preocupa com os rostos desolados ao andar pelo mundo sabe do que eu estou dizendo.