Let´s Go!

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5.4.13

Bill Murray e a arte de não saber o que está acontecendo

Antes que alguém pergunte "O Bill Murray morreu?", é bom avisar que tenho minha própria linha do tempo, independente do Timeline do Facebook, quase todo orientado para o passado e uma digestão recente de acontecimentos. Não, o Bill Murray não morreu, pelo menos até o momento em que escrevo estas linhas.

Existem inúmeros estilos de cômicos, e Bill Murray faz parte de um estilo que têm poucos representantes, é uma coisa meio rara de aparecer. Ele faz de um estado de semi-dormência uma arte.

O que é este estado de semi-dormência?

Você já viu algum dos filmes "Se Beber não Case"? Os personagens tentam resolver situações que aconteceram no dia anterior depois de terem tomado um porre tão grande que não se lembram de nada. E daí vão procurar pistas do que pode ter acontecido na noite em que estavam totalmente bêbados.

Você já acordou numa situação estranha e ficou olhando e pensando "Onde eu estou? O que está acontecendo? Como vim parar aqui?"

Quando não distinguimos claramente o que está acontecendo é o que chamei de semi-dormência. E a consequência disto é um estranhamento da realidade que nos cerca.

Numa boa parte dos filmes que o Bill Murray atuou ele está nesta situação. O mundo está desabando e ele lá no meio.

Mas a genialidade e a graça estão justamente na maneira como ele se comporta nestas situações.
Se na série "Se Beber não Case" os personagens aparentam evidente constrangimento com o comportamento do dia anterior e estão preocupados em como reorganizar as suas vidas, seja encontrando algo ou alguém que desapareceu ou mesmo eliminando vestígios do que fizeram, os personagens (ou "o" personagem) de Bill Murray simplesmente continua a sua vida no meio do caos que está no seu entorno.
E você pensa: "Será que em algum momento ele vai acordar para a situação e perceber o que está acontecendo?" E ele curiosamente continua em seu sonambulismo existencial, seguindo um script mas não entendendo nada do que acontece.

É uma questão muito especifica, uma falta de noção do entorno que nos faz rir, e que Bill Murray transformou numa espécie de arte. Há algo de Buster Keaton nisto, e são poucos que sabem mostrar isto na tela. Talvez quem tenha melhor percebido issto foi Sophia Coppola (minha prima distante, acredite se quiser) com o filme Encontros e Desencontros (Lost in Translation).
Você imagina outro ator fazendo este filme?


3.4.13

Dívida Interna Pessoal - Sabe o que é?

 Quando convivemos com os outros, ou seja, o tempo todo (a não ser que você seja um eremita numa caverna isolada com conexão 3G ) convivemos com a Dívida Interna Pessoal delas e a nossa.

Ninguém é maduro o suficiente para resolver todos os problemas do passado. Muitas vezes temos de conviver com eles, e em muitas situações eles nos assombram.

Do ponto de vista que enxergo as coisas hoje chamo isto de Narrativas Ficcionais, um pouco influenciado por alguns Heideggerianos e o papo da Dasein Análise. O que são as Narrativas Ficcionais? Histórias que criamos gradativamente e se consolidam na nossa imaginação ou memória.

Somos felizes ou tristes, amargurados ou bem-resolvidos pela maneira com que observamos nossas Narrativas Ficcionais. Nos apegamos a determinados elementos do passado e construímos histórias, valores e referências para o mundo que vivemos hoje. Até aí normal, mas como o próprio nome diz, elas são ficções, não foram reais no momento em que vivemos e não são reais agora, mas são nossos parâmetros.

Tenho uma amiga muito querida que me disse uma vez sobre perdão: "Não procurei o perdão dos outros, procurei me perdoar". De certa maneira "se perdoar" é fazer as pazes com histórias que muitas vezes não digerimos no passado e que estão assombrando o nosso momento presente.

Quando não digerimos ou "reconstruímos" nossas histórias, elas se tornam nossa Dívida Pessoal Interna. Ficamos em débito conosco, devemos algo por termos evitado olhar para questões pessoais que deveriam em algum momento serem encaradas.

Infelizmente obrigamos as pessoas ao nosso redor a conviverem com estas questões, faz parte. Mas como elas são nossas histórias, e não necessariamente os outros vão entender. E daí podem surgir conflitos e mal entendidos.

Vale a pena reinventar nossas histórias do passado, sempre. Ela não são fixas, ela são dinâmicas, e nossas narrativas também podem ser. Se não fizermos isto, nossa dívida só aumenta.

2.4.13

Qual versão você prefere? Dave Brubeck, Trio Los Panchos ou Ray Conniff? Besame Mucho...

Uma das belezas da música é esta: Sempre dá para fazer uma nova versão, e outra, e outra.

Besame Mucho tem milhares de versões. Selecionei três para ouvir, gosto de todas. Ou, pensando melhor, três caras diferentes dentro de mim gostam de cada uma delas. Ouça! Música pode ser um sentido para a vida, na ausência das verdades.




Por que você deveria ler Religião para Ateus, do Alain de Botton

Caso você seja ateu, agnóstico, tenha fé mas não religião ou seja de uma corrente religiosa moderada ou que aceita a diversidade de credo, seria muito bom que você lesse o livro Religião para Ateus, do Alain de Botton.
Diferentemente do Richard Dawkins, que está numa cruzada contra a religião, Botton se propõe a analisar o que a Religião tem de bom. Não do ponto de vista de seus dogmas e crenças, mas sim nos milhares de anos de desenvolvimento de técnicas de propagação de ideias, organização e tudo o mais. Nisto os religiosos são imbatíveis.
Botton acredita que existem valores sociais que ateus e não-religiosos poderiam disseminar usando as mesmas técnicas que as religiões usam, e que não necessariamente entram em conflito com os princípios religiosos, mas organizam a maneira de disseminarmos questões que são relevantes para um grupo de pessoas sem a organização dos religiosos.
Um belo exemplo que ele deu na palestra na Sala São Paulo é um Templo do Amor. Por que não criar um templo dedicado ao amor, onde as pessoas pudessem frequentar e fosse um espaço para a reflexão e a vivência deste sentimento tão caro a todos?
Há outros inúmeros valores que os grupos nas Redes Sociais clamam, mas de maneira desorganizada. E as Redes Sociais não são Redes Sociais, a experiência de "rede" do Facebook é solitária, as estruturas coletivas ainda são embrionárias e orientadas para negócios.
A leitura de um livro como este ajudaria na reflexão sobre como pessoas não-religiosas podem se organizar em torno de questões que vivenciam e acreditam. Fica a dica.