Let´s Go!

Let´s Go!
Let´s Go!

13.11.12

Intolerância e Identidade

Não há uma só razão para a intolerância, elas são várias.  Há razões ligadas às relações pessoais e às relações sociais, o que já gera um grande leque de variáveis. Mas podemos perceber que as intolerâncias sociais (de credo, etnia, gênero, status social, etc) incidem nas relações pessoais. Assim, o meu credo pode gerar intolerância não ao credo do meu vizinho, mas sim ao vizinho enquanto ser humano. Sempre a intolerância é em relação a pessoas, é deflagrada por ideias e conceitos, mas se manifesta nas relações.
Curiosamente, é um processo de coisificação, a pessoa que não é tolerada deixa de ser pessoa, passa a ser coisa, perde sua humanidade, suas múltiplas dimensões, para se restringir apenas ao objeto da intolerância. Um bom exemplo disto são as inúmeras mensagens de ódio às pessoas encarceradas nas prisões. A partir do momento que você infringiu algum código da sociedade que te levou para a prisão, você não é mais um ser humano, você é um bandido, e bandidos não merecem ter Direitos Humanos, eles não são mais humanos, são apenas bandidos.
É um processo de simplificação que permite que nossa intolerância se manifeste com toda sua crueza (da mesma maneira que acontece quando o "bandido" olha para você na rua e enxerga apenas sua bolsa com dinheiro, esquecendo ou ignorando sua humanidade, suas dificuldades, etc)

Em Manaus, um grupo de alunos evangélicos se recusou a fazer um trabalho escolar sobre a cultura afro-brasileira, pois seus princípios religiosos os impediam de estudar algo associado com o satanismo e ao homossexualismo. Livros como Macunaíma também foram repudiados por estes alunos.

O que pode parecer um caso de intolerância esbarra numa situação muito mais complexa, que é a questão da identidade. Se este grupo de alunos fosse formado por europeus (ou asiáticos, ou qualquer outra etnia) ou de descendentes de uma etnia isolados num contexto cultural e separado geograficamente do cotidiano da Amazônia, daria para entender algum estranhamento cultural que gerasse esta intolerância. Não justificaria, mas seria um pouco mais compreensível.
Mas eles são descendentes da miscigenação cultural brasileira, ou seja, fazem parte deste caldo cultural de nosso povo.
Negar a influência da cultura afro no Brasil, se recusar a sequer estudar esta cultura, é um problema de negação de identidade, e não de intolerância. 
Que possamos e queiramos mudar nossa identidade, ampliar nossos horizontes identitários, não vejo problemas. Mas a negação absoluta de parte de suas raízes pode ser um problema. Podemos até almejar nos descolar de nossas raízes, mas o sofrimento será inevitável, em algum momento teremos de nos confrontar com esta realidade. Negação da realidade não faz bem para a saúde...

Sem comentários: