Let´s Go!

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18.6.12

Dilema: Concorrer a dois milhões de reais ou ir ao funeral da irmã assassinada?

A princípio parece um dilema simples, já que todas as pessoas diriam que preferem ir se despedir de sua irmã. Não haveria dinheiro que comprasse o sentimento de ausência e de falta de solidariedade com o resto da família. Mas no mundo de hoje a questão parece ser mais complexa.
Ângela Bismarchi, uma modelo (ou sub-celebridade, como alguns dizem), teve sua irmã assassinada numa briga entre o atual e o ex. Uma triste história que ainda acontece pelo mundo. E isto aconteceu no momento em que a modelo está isolada num reality show. Se ela sair, perde a chance de concorrer ao prêmio. Se ficar, não pode ir ao enterro da irmã.


É um dilema recente, de nossa modernidade (ou do mundo contemporâneo, como quiserem). O primeiro indício deste tipo de situação que me lembro acontece no filme A Montanha dos Sete Abutres, onde Kirk Douglas é um repórter de um jornal sem projeção que é chamado para acompanhar a história de um homem que está preso numa mina e percebe que esta é a notícia que pode fazê-lo ficar famoso.


Por que é tão importante ficar famoso nos dias de hoje? Qual a razão que faz com que as pessoas invistam tanto em "popularidade"? Quando eu este fenômeno em filmes e seriados americanos antigos não parecia algo tão relevante na época, mas hoje isto reflete a sociedade ocidental como um todo. A frase do rapper 50 cent "Get Rich or Die Tryin" poderia ser alterada para "Get Famous or...", pois esta é a questão de hoje.


Por mim, a grande problemática social de nossa sociedade é o sentimento de anonimato. O esvaziamento da vida privada em detrimento de uma vida social intensa aguça a necessidade de sermos alguém para muitos, e não alguém para nós mesmos e nossos entes e parentes. Ser importante é o que importa.


Apesar de o dilema moral colocado no título deste post estar relacionado ao dinheiro, o que se torna evidente é que não tem nada a ver com ele. A tal modelo não é uma pessoa que precise de dinheiro, é casada com um bem sucedido cirurgião plástico (que a remodelou em mais de 40 cirurgias, quase como o criador e criatura do livro Frankenstein). Ela precisa ser popular, a todo custo.


A popularidade, neste sentido, é mais cruel do que o trabalho, já que grande parte das pessoas aceita o trabalho como um fardo e sonha com o dia em que poderá ficar sem fazer nada (outra ilusão). Já a popularidade é diferente, pois a grande maioria das pessoas não quer ser famosa num dia e depois cair no ostracismo. Ninguém quer ser esquecido, e isto move o mundo das sub-celebridades, que estão próximas da fama, e não querem voltar para o buraco de onde vieram.


Vale a pena acompanhar os desdobramentos desta história, ela é parte de algo íntimo de cada um: Como conciliar desejo e responsabilidade?

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