Let´s Go!

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24.4.12

Os adolescentes são egoístas?

Muita gente que convive com adolescentes acha que esta fase da vida é extremamente egoica, voltada para si mesmo, os adolescentes não estariam nem aí para o resto do mundo. Em especial em relação aos pais.
Aparentemente o comportamento é mesmo autocentrado. O que fica para os pais e adultos ao redor é a sensação de que eles só têm tempo para os amigos, que não querem fazer nada além de conversar com a turma, sair, estas coisas. Estudar, muito raramente. Atividades em casa, participação na rotina, nem pensar.


Já ouvi gente falando que isto está associado ao desenvolvimento neuronal e mental, que é uma fase em que a responsabilidade ainda está amadurecendo, por assim dizer. Mas tenho minhas dúvidas que seja só imaturidade. Inclusive pelo fato da adolescência ser um fenômeno social recente. Existem várias sociedades em que ela não existe nem existiu, o cara passa por um ritual de passagem e ploft! É adulto e não se fala mais nisto.
Vamos pensar na seguinte hipótese: O ser humano é um bicho social, vive no coletivo e depende dele para viver, quase como uma colônia. Tem gente que não gosta de pensar assim e quer valorizar apenas o indivíduo, mas somos muito dependentes uns dos outros.


A sociedade atual ampliou a interdependência através dos meios virtuais. Não só precisamos nos relacionar com as pessoas ao nosso redor como também nas redes sociais e nos meios de comunicação. Nunca fomos tão interdependentes. Tem de fazer bonito com os amigos, com a turma do Facebook, com o pessoal do Twitter e mais um monte de outras conexões variadas. 


O aprendizado do convívio social passa pela construção de nossa própria rede de relacionamentos, uma das coisas que os pais e adultos sempre esquecem. Os jovens vivem boa parte de sua infância na rede de relacionamentos de suas famílias, e tem um momento em que começam a construir suas próprias redes. Este momento geralmente acontece na adolescência, e gerenciar amizades, colegas, desafetos, amores, paixões e interesses é algo que demanda investimento. E é o que eles fazem: Estão construindo sua network, ao mesmo tempo que aprendem a construir networks. A habilidade de construir e gerenciar networks vai ser crucial na sobrevivência deste jovem no futuro. 


Existem pais que chegam em casa chateados por causa de problemas com o chefe no escritório e ficam irritados pois os filhos estão totalmente dedicados a gerenciar a crise no grupo de amigos que foi gerada por uma briga entre eles. Os pais acham que é exagerado o grau de importância que é dada ao assunto, que o filho não deveria estar tão preocupado com assuntos bobos, mas acha extremamente sério o fato do chefe dele ter dado uma bronca nele sem razão.
Cá entre nós, não é a mesma coisa? O grau de importância quando se está fora do contexto sempre parece menor, afinal de contas aquilo não implica em problema nenhum para a gente. Mas para quem está dentro do contexto, as coisas parecem muito maiores, até além do que deveriam ser.


É hora de valorizar a importância da construção de redes de relacionamentos na adolescência. As escolas (por exemplo) ensinam até astrofísica, mas tratam de maneira secundária a capacidade de interação e construção de grupos de afinidades. Sem desqualificar a astrofísica, acho que alguém pode sobreviver muito bem sem conhecer os anéis de Saturno, mas se não souber conviver e gerenciar diferentes relacionamentos, esta pessoa vai ter muitas dificuldades pela frente...

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