Let´s Go!

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20.1.14

Para que serve a Arte, afinal de contas?

Depois de estudar bastante, acompanhar várias linguagens -  música, dança, plásticas, teatro, literatura e por aí vai - descobri que poderia falar por horas sobre algumas dezenas de respostas possíveis sobre Arte. Mas hoje vou me ater a uma resposta pessoal, nada teórica, deste atual momento de vida, como gerador de expressões culturais, como músicas, fotografias, textos, desenhos e coisas do gênero. (Se quiser saber do que estou falando, basta acessar meu site.)

A pergunta certa do título deveria ser "Por que eu faço desenhos, pinturas, textos, músicas e fotos?".

Acho que todo mundo faz isto quando pequeno, brincando no universo imaginativo, construindo linguagens, narrativas e histórias. Mas algumas pessoas continuam a fazer durante a vida adulta.

Curiosamente nunca fui muito fã de meus desenhos nem de minhas músicas, salvo uma ou outra coisa que faço, e que não necessariamente os outros acham legal ou interessante. São raras as coisas que produzo que me satisfazem. Talvez aí esteja um indício inicial do que me faz produzir coisas.

Um aspecto importante de minha personalidade é ser um coletor e pesquisador. Adoro detalhes, pequenas coisas do cotidiano, cenas na rua. Tenho um carinho especial pelo exótico, pelo esdrúxulo e pelo divertido.

Um terapeuta me disse que eu deveria investir em finalizar alguns processos de criação, como por exemplo juntar tudo que desenho e montar uma exposição, mostrar para os outros. Na época até me animei, mas no momento não tenho grandes vontades de expor. Mas sei que em algum momento isto vai acontecer.

Tenho plena consciência de que meu impulso de criar é para deixar sair coisas com que não consigo trabalhar em minha mente, perturbações ou sentimentos que não se encaixam ou são complexos demais para mim. E sei também que em cada momento uma linguagem me parece ser mais convidativa do que a outra. Nos últimos tempos fiz bastante música, honestamente não sei por que, mas sei que a música me pareceu mais adequada. Me jogo no teclado e passo algumas horas compondo.

Em outros momentos é a fotografia, algo da rua que me chama a atenção, que me encanta. 

Os desenhos e os textos estão parados, por razões diferentes. Meus desenhos entraram num formato e numa temática muito específicos: Asteróides circundados por uma figura que chamo de Super Herói, e muita hachura (risquinho) em volta. E tentáculos, que considero um desmembramento da forma dos asteróides.
Quanto mais desenho este Super Herói mais percebo que ele é minha sombra, algo que me faz mal. Que preciso aplacar a vontade de abraçar o mundo, a vontade de acolher todos. A qualquer custo. Este Super Herói é tão importante para mim (não necessariamente me faz bem) que decidi fazer uma tatuagem dele (ou com ele, sei lá).  Talvez seja uma forma de agradecer algo que cultivei por muito tempo mas que hoje não faz mais parte de mim. Mas que é indissociável de minha personalidade, de minha história.

Escrever é outra coisa que tenho feito pouco. Comecei em 2013 a escrever o que seria um primeiro romance de ficção, mas como não me organizei na escrita o fluxo ficou muito confuso, parecem trechos sem conexão, foi ficando esquisito e sem forma, daí parei. Talvez precise fazer um exercício de organização e de construção antes de escrevê-lo, mas por enquanto está dormindo em alguma gaveta do mundo virtual. E vai ficar por aí.

Uma vez ouvi o Bernard Summers (vocalista do New Order) dizer que depois que começou a tomar remédios antidepressivos a vontade de compor e tocar música sumiu. Nada contra os remédios, mas entendo exatamente o que ele quis dizer. Há uma correlação entre nosso estado mental e as coisas que produzimos.

Se é Arte aquilo que faço? Não cabe a mim dizer, nem avaliar. Se faz sentido para os outros, e traz algo relevante ou não para alguém? Também não é algo com que me preocupe. Faço estas coisas porque preciso fazer. Esta pulsão é inconstante, variada e não necessariamente lapidável pelo conhecimento de alguma linguagem ou algum contexto estético.

Um grande amigo meu, o melhor pintor que conheço, Alexandre Alves, uma vez olhou meus quadros e disse, meio sem saber o que falar: "Isto não é pintura, você usa caneta em cima da tinta". "Isto não é desenho, pois você usa tinta como base".  Mais do que uma constatação óbvia, ele estava me dizendo da questão da técnica e do contexto em que a técnica se coloca numa linha do tempo da História da Pintura, da História do Desenho. O que eram aquelas coisas que eu estava fazendo se elas não se encaixavam num debate específico?

Adoraria que ele tivesse achado o máximo o que faço, e que dissesse que sou incrível, fodão, etc. Mas não tenho preocupação com este contexto hoje. Se existe, está misturado na maneira confusa com que expresso as coisas que faço.


16.1.14

Exercício Cívico ou Denuncismo?

Me peguei neste dilema hoje. Ao chegar no escritório da Joombo, minha agência de publicidade, vi um carro manobrando para estacionar na vaga exclusiva para motos. Quem não conhece o centro de SP não sabe que é bem difícil estacionar moto por aqui, muitas das áreas com Zona Azul não permitem o estacionamento de motos.

Olhei para o carro estacionando, carro grande, importado, descem duas senhoras bem vestidas e entram no prédio em frente. Fico olhando para ver se o motorista ia sair depois das duas desembarcarem, mas nada. O cara continua lá, desliga o carro e fica esperando.

Daí surgiu meu dilema. Queria dar um toque para o motorista, chegar e pedir educadamente que ele retirasse o carro de lá, estas coisas, mas todas as vezes - sem exceção -  que fiz isto as pessoas se tornam muito agressivas. Não basta o cara estar fazendo a coisa errada, ele tem de te olhar feio e falar um monte, como se quem estivesse errado fosse você, e não ele. É um comportamento que não entendo, mas recorrente em SP.

Aí resolvi ir até a base da polícia e pedir orientação. Conversei com o soldado que me disse que eu nem precisava abordar o motorista, não precisava falar nada, bastava anotar a placa e trazer para ele, que ele mandava a multa no cara. Fui lá, fotografei a placa e passei os dados para o policial.

Depois que fiz isto o policial me disse: "Estes caras ficam fazendo estas coisas, espera daqui trinta dias ele receber a multa aí vai ver o que é bom para tosse".

Toda esta história me gerou um sentimento estranho, pois se por um lado "fiz a coisa certa", por outro lado não acho que este seja o caminho mais adequado, acho que deveria ter podido falar tranquilamente com o motorista e pedido para ele sair de lá, sem stress para nenhuma das partes. Afinal de contas, estava cheio de vagas por perto, mas as mulheres teriam de andar uns vinte ou trinta metros, nada que mate ninguém. Ir até o posto da PM, fotografar a placa do carro, levar para o policial e mandar multa para o infrator não me deu a sensação que vai melhorar a situação, só que o cara vai ter de pagar multa, e pronto. Não acho que isto ajude a melhorar a atitude do cara, penso que ele só vai ficar puto com a multa mas não vai deixar de parar o carro em local proibido.

Nos Estados Unidos o enfoque é duplo: Além do cara ser multado, ele ainda tem de ouvir uma bronca do policial explicando o que ele fez e por que não deveria estar fazendo aquilo. O constrangimento da bronca me parece mais coercitivo do que o valor financeiro. Mas parece que por aqui o que funciona é mandar multa no cidadão. E "funciona"é só um eufemismo, pois tenho certeza que não funciona.
Por sinal, tivemos recorde de multas em SP no ano passado. Foram 10,1 milhões de multas de trânsito. E não acho que isto melhorou em nada a qualidade do trânsito nem a conduta dos motoristas...

PS - A foto publicada é meramente ilustrativa.

14.1.14

Por que George Harrison é o meu escolhido

Uma das razões pela qual os Beatles são o sucesso que são é o fato de terem uma formação diversa. Não é possível comparar John com Paul e muito menos com George (O Ringo é um acidente de percurso, acho que a raça humana em geral deve concordar com isto).

Como todas as boy bands (sim, Beatles é a primeira), sempre nos identificamos mais com um do que com outro.
Nunca tive empatia pelo Paul, acho um bicho meio insosso. E acho que o John foi uma das personalidades mais espetaculares que passaram por este planeta, trouxe uma reflexão profunda (e propagandista) de uma maneira de levar a vida incrível.

Mas amo mesmo o George Harrison.

Suas composições são particulares, e sua atitude perante o mundo me tocam. Low profile, de poucas palavras, não entrou na contenda Paul X John (quem é mais genial? quem tem maior capacidade intelectual, musical?), George conviveu com a fama, com a guerra de egos, e ainda assim colocou seu risco na parede de granito que é a vida.

George trouxe riffs importantes para a guitarra da música pop, se iluminou nas viagens indianas dos Beatles, aceitou o fato de sua esposa se apaixonar pelo seu melhor amigo (continuou amigo de Eric Clapton depois disto),  hipotecou sua mansão para lançar o Monty Python, aceitou com serenidade o câncer que o matou.


Se tem alguém que praticou o desapego, de verdade, foi George Harrison. Um dia eu chego lá...



Trate bem a sua vaquinha

Um dos sábios conselhos que já recebi foi em relação a vaquinha.
Mas o que é uma vaquinha? No caso não é um animal nem juntar dinheiro para uma doação: É aquilo que te sustenta.
Em alguns casos, aquilo que te sustenta é a fé, ou a arte, e em muitas vezes a vaquinha é algo ou alguém que te provê coisas muito importantes na sua vida.

Aprendi isto com um amigo, que estava chateado com a namorada. Ele fazia de tudo por ela, levava, trazia, era carinhoso, estava disponível, sempre com um sorriso, e até dava dinheiro para ela comprar cigarro quando estava dura. Um dia, no meio das reclamações, ele me disse: "O que ela precisava entender é que devia tratar melhor a sua vaquinha".

Não acho que as relações entre as pessoas devam ser exclusivamente de dependência, como se alguém provesse tudo para o outro e tudo bem. Mas sei que nas relações em geral em muitos momentos você poderá ser a vaquinha de alguém, e em outros alguém será a sua vaquinha. A grande questão é: Se você tem uma vaquinha, trate bem dela. Alimente aquilo que te alimenta. Dê atenção e valor para ela (não significa puxar o saco de seu chefe, não é sobre isto que estamos falando). Simplesmente dê valor para aquilo e para aqueles que te dão valor.

Todo mundo têm uma vaquinha. Mas nem todos dão valor para ela.

Uma esquina que me faz sorrir todos os dias

Na Avenida São João existe um centro de apoio à terceira idade. Passo todos os dias na frente para ir ao escritório da Joombo.
Na pracinha em frente ao local ficam vários senhores e senhoras aposentados tomando sol e batendo papo.
Um dia estava passando de moto e o sinal fechou. Fiquei parado por um tempo, enquanto alguns senhores atravessavam na faixa de pedestres. Um deles, num determinado momento, começou a olhar na minha direção e a falar. Eu estava ouvindo música e não entendia o que ele dizia.  Desliguei o som e consegui ouvir o que ele falava:
"Você está muito carrancudo! Que cara feia! Está na hora de sorrir mais!" E abriu um sorriso como se fosse uma careta, um misto de avacalhação e simpatia, parecia brincadeira de criança.

Está na hora de sorrir mais....

Como sorrir mais, quando estamos preocupados com as coisas do mundo adulto, resolver uma série de pepinos, trabalhos, planejamentos, etc etc?

O que aprendi (de novo) naquele dia é que temos de buscar um sorriso dentro da gente a cada dia. Sorrir faz bem, muito bem, e mesmo que aparentemente não tenhamos razão para sorrir, ao iniciarmos o processo é possível que mudemos a nossa percepção das coisas.

Sabe aquele papo de Mens Sana In Corpore Sano? A regra é a mesma se for usada ao contrário: Corpore Sano In Mens Sana. Se você forçar o seu corpo a agir buscando a felicidade ele pode ajudar sua mente a encontrá-la. Parece bobeira né? Mas bobeira maior seria esperar do mundo que enviasse razões para você sorrrir. Não é o mundo o responsável pela sua felicidade, mas o contrário.

Vamos sorrir um pouco hoje?

(Todo dia que eu passo naquela esquina eu agradeço aquele senhor que me fez uma careta para mudar meu dia. E sorrio)


12.1.14

Pequena tragédia do cotidiano adolescente

Como já aconteceu faz um bom tempo acho que podemos contar uma triste história que aconteceu com um de meus alunos.
O garoto estava um pouco defasado em sua escola anterior, pois tinha Síndrome de Tourette e tentava agora na nova escola se adaptar melhor ao ritmo do ensino médio.
Como aquela escola era um espaço com grande diversidade de alunos, apesar dos tiques e comportamentos diferenciados, o aluno conseguiu um espaço, alguns amigos, e dava andamento ao curso, apesar das dificuldades.

Algumas pessoas não estão acostumadas a esta síndrome: O comportamento é bem diferenciado, e muitas vezes quem a têm sofre espasmos, faz gestos involuntários, se move de uma maneira diferente, e em algumas situações fala palavrão. Fala muito palavrão. Recentemente um goleiro com Tourette foi expulso do jogo pois o árbitro ficou incomodado com o palavreado do jogador.

Os colegas gostavam dele, que era um garoto muito divertido, sabia das suas características e muitas vezes brincava com elas. Tanto que era presença constante nas festas dos colegas.

Uma destas festas foi no condomínio fechado onde morava uma aluna, e como os pais estavam viajando, a molecada aproveitou para levar todo o tipo de bebida possível para fazer um churrasco.
Na festa estava o pessoal da escola e o pessoal do condomínio. Lá pelas tantas, todo mundo bêbado, acontece uma intriga entre o pessoal da escola e os moradores. Obviamente era por causa de mulher, alguém mexeu com alguém, e o namorado de alguém foi tirar satisfação e o amigo de alguém ficou macho, em suma, aquela história clássica.

No meio daquela bagunça de empurra-empurra, o rapaz com Tourette ficou tenso, e começou com os tiques e a soltar palavrões para todos os lados, o que deixou o pessoal do condomínio enfurecido, e o grupo cercou o rapaz. Os colegas, quando viram a situação, ficaram desesperados, e começaram a gritar: "Cara, deixa ele, ele têm problema, não faz de propósito", e alguns tentaram defender o rapaz, mas era tarde. Começou um espancamento sem dó do rapaz, que não tinha a mínima condição de se defender. A violência só parou quando o rapaz estava insconsciente, de tantos socos e chutes.

A agressão foi tamanha que o rapaz teve afundamento craniano e passou duas semanas em coma, entre a vida e a morte. Um de seus amigos me trouxe uma foto dele no hospital, e se tivessem me dito que ele tinha sido atropelado por um ônibus eu acreditaria. Destruído.

Não tive mais notícias dele depois disto, mas sei que se recuperou dos ferimentos do corpo, mas tenho certeza de que a vida dele seria melhor se isto não tivesse acontecido com ele...

10.1.14

Como respeitar um morador de rua?

Uma das grandes histórias que ouvi. Um grupo de alunos da FAU-USP foi fazer um ensaio fotográfico na Praça da Sé. O grupo observa a Matriz, os monumentos, as esculturas. De repente encaram a "realidade":
Um monte de moradores de rua. Uma das meninas tira uma foto. No que ela tira a foto, o morador de rua se aproxima dela com cara desconfiada.
Por que tirou uma foto minha? Pergunta o morador de rua.
A estudante da FAU fica meio sem saber o que falar.

Por que tirou uma foto minha? O fato de eu estar aqui nesta situação não significa que eu não seja alguém. Estou na rua, mas sou uma pessoa, com sentimentos, vontades, desejos, continuava o morador de rua, para espanto da estudante.

Sem saber o que fazer, a pobre garota saca uma nota de cinco reais e estende para o morador de rua.

Você quer comprar minha dignidade com isto? Quem te deu o direito de achar que pode comprar minha dignidade com cinco reais? Tira uma foto minha, nesta situação, e vai fazer o que com a foto? E quer me pagar com dinheiro? Você acha que dinheiro compra minha dignidade?

A moça, totalmente sem saber o que fazer, pergunta: O que eu posso fazer para me redimir? Não era minha intenção, desculpe, não queria ofender.

O morador de rua responde: Pode ficar com a foto, mas me trate como ser humano.

Como posso te tratar como ser humano? pergunta a garota.

Me dê um abraço, e está tudo bem. E o morador de rua abre os braços.

A jovem de classe média alternativa, culta (acostumada com o sucrilhos no prato, como diria o Criolo) olha para a situação: O cara não tomava banho fazia uma década, todo sujo, e inevitavelmente fedido. Fica na dúvida: Vai ou não vai?
Pensa na formação humanista, na igualdade que aprendeu nas escolas moderninhas, e abre os braços na direção do morador de rua.

O morador de rua abraça a jovem intensamente. No meio daquela situação o sujeito aperta mais o abraço, chega mais perto dela e diz, sussurrando em seu ouvido:

Gostosa.....

(O Alvaro Giansanti que me contou esta pérola. Por sinal usei uma foto de carnaval para ilustrar o post por razões óbvias)