Como já aconteceu faz um bom tempo acho que podemos contar uma triste história que aconteceu com um de meus alunos.
O garoto estava um pouco defasado em sua escola anterior, pois tinha Síndrome de Tourette e tentava agora na nova escola se adaptar melhor ao ritmo do ensino médio.
Como aquela escola era um espaço com grande diversidade de alunos, apesar dos tiques e comportamentos diferenciados, o aluno conseguiu um espaço, alguns amigos, e dava andamento ao curso, apesar das dificuldades.
Algumas pessoas não estão acostumadas a esta síndrome: O comportamento é bem diferenciado, e muitas vezes quem a têm sofre espasmos, faz gestos involuntários, se move de uma maneira diferente, e em algumas situações fala palavrão. Fala muito palavrão. Recentemente um goleiro com Tourette foi expulso do jogo pois o árbitro ficou incomodado com o palavreado do jogador.
Os colegas gostavam dele, que era um garoto muito divertido, sabia das suas características e muitas vezes brincava com elas. Tanto que era presença constante nas festas dos colegas.
Uma destas festas foi no condomínio fechado onde morava uma aluna, e como os pais estavam viajando, a molecada aproveitou para levar todo o tipo de bebida possível para fazer um churrasco.
Na festa estava o pessoal da escola e o pessoal do condomínio. Lá pelas tantas, todo mundo bêbado, acontece uma intriga entre o pessoal da escola e os moradores. Obviamente era por causa de mulher, alguém mexeu com alguém, e o namorado de alguém foi tirar satisfação e o amigo de alguém ficou macho, em suma, aquela história clássica.
No meio daquela bagunça de empurra-empurra, o rapaz com Tourette ficou tenso, e começou com os tiques e a soltar palavrões para todos os lados, o que deixou o pessoal do condomínio enfurecido, e o grupo cercou o rapaz. Os colegas, quando viram a situação, ficaram desesperados, e começaram a gritar: "Cara, deixa ele, ele têm problema, não faz de propósito", e alguns tentaram defender o rapaz, mas era tarde. Começou um espancamento sem dó do rapaz, que não tinha a mínima condição de se defender. A violência só parou quando o rapaz estava insconsciente, de tantos socos e chutes.
A agressão foi tamanha que o rapaz teve afundamento craniano e passou duas semanas em coma, entre a vida e a morte. Um de seus amigos me trouxe uma foto dele no hospital, e se tivessem me dito que ele tinha sido atropelado por um ônibus eu acreditaria. Destruído.
Não tive mais notícias dele depois disto, mas sei que se recuperou dos ferimentos do corpo, mas tenho certeza de que a vida dele seria melhor se isto não tivesse acontecido com ele...
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