Já falei em um vídeo (veja abaixo) sobre a relação estrutural entre as Manifestações e o Harlem Shake. Mas a questão dos conteúdos de expressão da Manifestação é outra. Estas pessoas se aglutinam em torno de quê, especificamente? Se antigamente o povo se juntava em torno de uma causa, hoje as pessoas levam suas causas para juntar à manifestação.
O que muda?
Enquanto em outros movimentos políticos existia uma causa clara - Liberdade de Imprensa, por exemplo - e as pessoas que se identificavam com esta causa iam às ruas para dar força ao movimento e torna-lo expressivo, hoje, o que vemos é as pessoas levarem suas causas de cada micro-grupo para darem força ao grupo. Por isto vemos tantas faixas e bandeiras, quase individuais, espalhadas pela multidão.
Um dos grandes baratos de quem está na manifestação é ver o que cada faixa ou cartolina está dizendo, muito parecido com os memes e os posts que preenchem nossas timelines nas redes sociais.
Um deles, que dizia "Saímos do Facebook" significa um pouco isto. Obviamente isto não significa que a Ágora Virtual que é o Facebook se expandiu e foi para o offline, mas sim que já existiam reflexões pessoais e de pequenos grupos que se manifestavam no online e agora levam seus "posts" para a rua. E isto volta para as redes sociais online, já que as pessoas fotografam os cartazes e postam em suas timelines, gerando um ciclo de comunicação virtuoso, pelo menos até o presente momento.
Voltando a Santo André e as pequenas Manifestações
Um amigo meu publicou, orgulhoso, a manifestação em sua cidade, Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Na foto era possível ver umas 300 pessoas com guarda-chuvas fazendo uma micro manifestação no centro da cidade.
Os alunos da 8a série da escola de minha filha criaram um evento pelo Facebook e juntaram 200 garotos para fazerem uma manifestação na frente da escola, parando a pequena travessa onde ela fica.
Agora vá até o álbum do Flickr onde estão as fotos do Américo Rodrigues e veja: Há um pouco de tudo naquele pequeno grupo. A intenção é se juntar e expressar questões num espaço coletivo, agregando a sua causa pessoal às causas de outras pessoas.
Quando pensamos nas grandes manifestações, como de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, devemos ter em mente não apenas o número de pessoas que teoricamente aderiram a uma causa específica, mas sim a um maior número de pessoas por causa e um maior número de causas, o que gera uma complexidade de situação muito maior. Se existe na manifestação de Santo André um casal gay se manifestando em SP há uma passeata específica dos Gays para se expressarem, que se dirige para a Avenida Paulista, onde encontrará as outras manifestações vindas de todos os outros lados da cidade.
E existem grupos menores, como os Nacionalistas Radicais de Direita, que não são significativos em Santa Rosa ou Santo André mas que em SP existem, que também vão juntos avolumar a massa de gente, expressando seu ponto de vista. O mesmo vale para partidos políticos, agremiações, movimentos sociais, ONGs, e por aí vai.
Não é simples atuar perante inúmeros grupos reunidos, que inclusive discordam entre si. A diversidade de interesses e motivos varia de acordo com o local, mas está presente em todos.
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