Let´s Go!

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26.6.13

Quais são seus fantasmas?

Para começar, deixo claro: Tenho montes de fantasmas.
Fantasmas são espíritos com quem não decidimos conviver. Sem que tenhamos controle, eles surgem em nossas vidas, e depois não sabemos como nos livrar deles.

Eu particularmente tenho dificuldades com todo tipo de desapego, aprendo dia a dia a deixar as coisas irem embora. Mas com enorme dificuldade. Lidar com o desapego é aceitar a finitude das coisas, e, em essência, lidar com sua própria finitude. Caixão não tem gaveta, como dizem.

Mas é muito estranho conviver com fantasmas e não ter desapego em relação a eles. Afinal de contas, você não gosta deles, eles não te fazem bem. Por que então eles grudam, a não ser pela sua própria vontade? Questões abstratas e a princípio não vinculadas a você deveriam ser facilmente descartadas. Mas não são.

Por um lado isto mostra que você é mais complexo do que acha que é. Que aquilo que você delineia com a caneta existencial como "sendo você" vai além do que gostaria ou que consegue captar de si mesmo. Há uma circunscrição da topografia de sua alma que não abrange seu todo: ele se espalha e escorre pelo desenho que fez, borrando as bordas e obrigando a rever as fronteiras de si.

Por outro lado os fantasmas te obrigam a lembrar que além de suas fronteiras serem artificialmente criadas, a caneta que usou para definir a linha que separa o eu do desconhecido têm forte valor moral, de julgamento de si mesmo. Como se usássemos a caneta para distinguir e destacar o que achamos bom em nós mesmos, estabelecendo a linha numa tentativa de nos dissociarmos daquilo que somos e consideramos ruim, que queríamos que não fôssemos, mas somos.

Descobri o poder do desenho ao tentar deixar o traço livre nas bordas da minha existência, do meu existir, um pouco por acaso, um pouco por necessidade, um pouco por distração. Não acredito em borracha, acho que elas deveriam ser banidas do cotidiano, para que lembremos que as coisas não tem volta, devem ser assimiladas ao desenho.

Mas aí entra outro aspecto, o do fetiche, ou do foco, tanto faz. Ao tentar redesenhar as bordas da existência e das definições internas de quem somos, existem reentrâncias mais fascinantes que outras, o apego ao detalhe faz com que fiquemos rabiscando em determinadas regiões e esqueçamos outras. E nas áreas em que não prestamos tanta atenção no desenho (por desinteresse estético ou por medo) é de onde surgem os fantasmas. Damos pouca atenção aos fantasmas, como se pudéssemos deixar para depois aquela região, e eles se avultam, pois fazem parte de um todo mais complexo que envolve desde a forma, a cor, a linha e a espessura e consistência da tinta.

Precisamos prestar atenção aos fantasmas, aceitar que existem, mas não necessariamente entendê-los como borrões de nossa existência, sem deixar que a caneta de cunho moral, superlativa, julgue novamente a forma de como estamos desenhando nossas bordas. Mas não é fácil.

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