Ovo ou Galinha
Escrever é preciso. Mesmo que não tenhamos expectativas se seremos lidos ou não.
Dissertar é um certo contra-senso nos dias de hoje, pois gerar conteúdo escrito que busca a reflexão não é muito popular: estamos na fase das frases, imagens e ilustrações. Basta participar de qualquer rede social que o fenômeno é fácil de perceber.
Ninguém quer ler mais do que cinco linhas, há muito conteúdo por aí para desperdiçarmos lendo textos de trinta ou quarenta linhas. Imagine então um livro inteiro.
Ontem contabilizei minhas leituras de 2011: uns quarenta livros. Só o "Da Guerra" do Clausewitz tinha 900 páginas. Aproveitei as férias escolares de julho e curti a maneira de Clausewitz compreender os conflitos armados.
Curiosamente não leio ficção, e já faz uns dez anos que a ficção não me atrai. Acompanho os lançamentos, leio resenhas, etc etc mas não tenho vontade de ler histórias.
Neste ano reparei que faço parte de uma geração interessante, pois adquiri o prazer pela leitura e pela escrita de livros e ao mesmo tempo adoro o universo digital. As gerações anteriores tem dificuldade com o mundo digital, e as novas não gostam de ler (em geral, claro).
Já faz algum tempo que perguntei numa sala de aula quantas pessoas assinavam jornal, e dois alunos me disseram que seus pais assinavam e liam jornais, os outros liam apenas as manchetes na internet.
Não vejo grandes prejuízos em se ler tudo picado, como lemos no universo de hiperlinks. Mas vejo que perdemos a paciência com histórias longas, textos longos, conteúdos de longa duração. Nem imagino o que aconteceria se propusesse para um grupo de jovens assistir Berlin Alexanderplatz nos dias de hoje, um filme de dezoito horas de duração. Assisti em cinco sessões durante uma semana, indo todos os dias ao cinema. Pensando nos dias de hoje parece coisa de maluco. E talvez seja.
Um dos livros que li mais interessantes (apesar de estar um pouco cansado do modo de escrever dos autores americanos) foi o Flourish, do Seligman, uma revisão de seus conceitos sobre a busca pela felicidade. Não sei se foi lançado já no Brasil mas para quem tem interesse de entender melhor o que motiva as pessoas é leitura obrigatória.
Faço um convite: Enquanto eu treino minha volta à escrita você treina um retorno à leitura de textos mais longos. O que acha?
Um 2012 reflexivo, sem pressa. Afinal de contas, como dizia o Baudrillard, adquirimos pressa e perdemos os objetivos, ou seja, todo mundo está acelerado sem saber para onde vai.
2 comentários:
adorei o seu convite! muito persuasivo...by the way, não tenho pressa ;-)
adorei o seu convite! muito persuasivo...by the way, não tenho pressa ;-)
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