Felicidade de Plástico
Com tantas pessoas desejando o bem e mostrando uma felicidade plástica, como então o mundo têm tantos problemas?
Pensei nisto ao ver os votos e as fotos das pessoas nas redes sociais durante a passagem do ano. Fiquei pensando se ao criarmos avatares felizes no mundo virtual conseguiríamos de alguma maneira mudar o mundo físico (o que honestamente acho difícil).
Sabe o que as redes sociais me lembram? Os bufês de casamento. Imagino que já tenha tido a oportunidade de participar de uma festa destas. Para mim os bufês são a realização de felicidade da classe média: Todo mundo cheiroso, com roupas extravagantes, mostrando o quanto gostariam de ser bacanas. Mas, obviamente, fica nítido que a roupa está um pouco larga, o perfume um pouco exagerado, e a felicidade, forçada.
Come-se demais, bebe-se demais, há uma necessidade de extrair o máximo possível da experiência, pois o próximo bufê pode demorar. E tudo termina ao som do Balão Mágico.
Vejo os votos de felicidade de ano novo de maneira semelhante. Todo mundo tentando melhorar a fotografia de si mesmo, valorizando o que dá e o que não dá, numa alegria que pretendia ser contagiante, mas se torna falsa. Mas como todos são falsos, tenta-se ser melhor no falsear que os outros.
Li hoje que foram recolhidas mais de seiscentas toneladas de lixo da praia do RJ depois da festa. Lixo gerado pelo desejo de felicidade, de explodir uma alegria inconsequente que permita um escape do indivíduo, uma pequena alienação, que a princípio não faz mal, mas no coletivo gera estragos. Felicidade individual = Toneladas de Lixo.
O mesmo vale para as redes sociais, mas com um lado ainda mais perverso, já que há a falsa sensação de ser ouvido, e a falsa sensação de que manifestar sua opinião é, de alguma maneira, um caminho para transformar qualquer coisa. É como se indignação resolvesse os problemas do mundo.
Vi vários fenômenos assim nos últimos tempos, abaixo-assinados, compartilhamentos, uma série de pseudo-mobilizações que saciam a vontade da expressão mas não atuam na transformação do objeto.
Há um tempo atrás aconteceu de um garoto ficar chateado com o cancelamento do show de sua banda e reagir dizendo: "vou xingar muito no twitter". Esta é a essência do vazio, da imobilização que as redes sociais podem trazer, assim como a falsa sensação de compartilhamento.
Sim, eu sei, existem benefícios, podemos nos conectar a pessoas que estávamos distantes, mas ao saciarmos nossa vontade através dos avatares podemos perder de vez a conexão física. Do ponto de vista dos memes, é interessante, pois vemos conceitos e ideias se consolidarem dentro de nosso mundo virtual, mas a cada dia o virtual parece mais distante do mundo físico (evito dizer mundo real pois o conceito de realidade é bastante complicado e não se aplica neste contexto). E assim passamos a ter realidades paralelas, não necessariamente complementares.
A internet passou por um processo de transformação muito intrigante. No começo dela as pessoas se conectavam através do virtual para buscar conexões no mundo físico. Gradativamente a conexão com o físico deixou de ser relevante, o virtual se tornou mais atraente. E hoje o virtual é tão atraente que realizamos coisas no mundo físico para que nossos avatares sejam mais interessantes. O chato é que no fundo sabemos que são apenas projeções, sombras na caverna platônica. Daí a angústia, não mais com o mundo físico, mas com a impossibilidade de viver apenas no virtual.
1 comentário:
Genial, adorei! É a mesma sensação que tenho, meio "peixe fora d'água" quando percebo que essa não é a minha praia, apesar de se a de tanta gente.
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