Domingo foi um dia em que a Monstruosidade reapareceu. Nem sempre ela aparece, não são todos os dias que convivemos com ela, mas de vez em quando ela ressurge.
Desta vez foi na forma de um atropelamento na Avenida Paulista. São Paulo vive um pseudo-encanto com o ciclismo, todos querem andar de bibicleta, as longas ciclovias levam alegremente a classe média até a cracolândia, onde famílias felizes se "apropriam" do centro velho passeando de bike rodeadas de nóias e moradores de rua.
No domingo de madrugada um jovem de classe média (provavelmente voltando da balada e alcoolizado) atropelou um jovem de classe baixa que ia pela ciclovia trabalhar. Não vou entrar em detalhes, mas se quiser saber tudo clique aqui.
Esta colisão de mundos gerou uma situação chocante: Um jovem de classe média se torna um monstro, capaz de fazer coisas inimagináveis, deixa de ser humano, (alguém que era como "nós") e numa sequência de ações surpreendentes passa a ser uma aberração.
Para mim é um caso de descontrole, total falta de condição de saber o que seria o certo e o errado. Foi isto que levou o motorista a fazer o que fez. Ninguém está preparado para uma situação destas, e ele entrou numa espiral que o levou a agir assim.
Mas isto não é o que a maioria das pessoas pensa. Quando elas vão julgar os atos dos outros sobem num pequeno banquinho, e de lá fazem seus discursos do que é certo e errado, sempre do ponto de vista "ideal". E hoje as redes sociais são recheadas de pequenas pessoas em cima de pequenos banquinhos, olhando de um ponto de vista perfeito e julgando os outros. O universo opinativo parece adquirir força com o distanciamento que o virtual têm na sua essência.
Vá falar nas redes sociais alguma coisa em defesa deste motorista e perceberá a fúria das pessoas em seus banquinhos. Apesar de nenhuma delas ter conhecido ninguém que passou por algo semelhante, e nem elas terem passado por algo parecido, todas têm certeza que agiriam perfeitamente naquela situação: Parariam para socorrer uma pessoa destroçada (por elas), pegaria os pedaços desta pessoa no meio de uma poça de sangue escuro e espesso, colocariam dentro do carro, esperariam a polícia chegar no hospital, estenderiam as mãos e diriam: "Seu guarda, eu pequei! Fiz o mal para este desconhecido, estava alcoolizado. Me leve para uma cela junto do pessoal do PCC, junto de matadores e estupradores por alguns anos pois mereço a punição. Estou em pleno juízo, apesar de bêbado e de ter destruído a vida de uma pessoa meia hora atrás..."
Parece que quando a gente sobe no banquinho, ao invés de ficarmos maiores, ficamos menores, perdemos nossa humanidade e esquecemos que Monstruosidades podem acontecer também com a gente, e não acontecem só com os outros...
2 comentários:
Olá, Bender. Me vi na manhã de hoje pensando por várias vezes sobre esse acontecimento escabroso e refletindo sobre a infelicidade não só da vítima mas do agente causador(o motorista) e tb de nossa sociedade, do que nos transformamos vez ou outra e o que nos leva a isso. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Continuo estarrecida com o fato mas meu pensamento chega bem próximo ao que vc tão claramente expôs no seu texto. O acontecemento foi certamente cruel com todos mas o préjulgamento, baseando-se em que todos somos baluartes do bom comportamento também o é. Obrigada.
Boa noite!
O que mais me deixa chocada é tentar me colocar na pele de ambas as maes e só consigo me compadecer. Tenho 3 filhos e todos eles poderiam ser a vítima quanto o responsável por esse incidente horrível.
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