Quando convivemos com os outros, ou seja, o tempo todo (a não ser que você seja um eremita numa caverna isolada com conexão 3G ) convivemos com a Dívida Interna Pessoal delas e a nossa.
Ninguém é maduro o suficiente para resolver todos os problemas do passado. Muitas vezes temos de conviver com eles, e em muitas situações eles nos assombram.
Do ponto de vista que enxergo as coisas hoje chamo isto de Narrativas Ficcionais, um pouco influenciado por alguns Heideggerianos e o papo da Dasein Análise. O que são as Narrativas Ficcionais? Histórias que criamos gradativamente e se consolidam na nossa imaginação ou memória.
Somos felizes ou tristes, amargurados ou bem-resolvidos pela maneira com que observamos nossas Narrativas Ficcionais. Nos apegamos a determinados elementos do passado e construímos histórias, valores e referências para o mundo que vivemos hoje. Até aí normal, mas como o próprio nome diz, elas são ficções, não foram reais no momento em que vivemos e não são reais agora, mas são nossos parâmetros.
Tenho uma amiga muito querida que me disse uma vez sobre perdão: "Não procurei o perdão dos outros, procurei me perdoar". De certa maneira "se perdoar" é fazer as pazes com histórias que muitas vezes não digerimos no passado e que estão assombrando o nosso momento presente.
Quando não digerimos ou "reconstruímos" nossas histórias, elas se tornam nossa Dívida Pessoal Interna. Ficamos em débito conosco, devemos algo por termos evitado olhar para questões pessoais que deveriam em algum momento serem encaradas.
Infelizmente obrigamos as pessoas ao nosso redor a conviverem com estas questões, faz parte. Mas como elas são nossas histórias, e não necessariamente os outros vão entender. E daí podem surgir conflitos e mal entendidos.
Vale a pena reinventar nossas histórias do passado, sempre. Ela não são fixas, ela são dinâmicas, e nossas narrativas também podem ser. Se não fizermos isto, nossa dívida só aumenta.
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