Let´s Go!

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5.4.12

Muita Fé e Pouca Luta

No dia 03/04 tive a oportunidade de assistir ao magnífico show do Roger Waters, The Wall.
Foi, talvez, o show mais incrível que assisti, seja do ponto de vista da amarração do tema, da tecnologia utilizada, da Direção de Arte e da qualidade do som gerado pelo artista (em todos os sentidos).
Mas ficou a velha pulga atrás da orelha.


Vi no show uma multidão de classe média, todos de camiseta preta, calça jeans e botas, parecendo uniforme. Mas era roupa nova, arrumada, dava a sensação que aquilo era a versão roqueira de um terno, ou uma túnica a ser utilizada num ritual.
Quando as luzes se apagaram era possível ver milhares (não é exagero) de celulares filmando o show.
A platéia cantou todas as músicas do álbum, estava sintonizada com o espetáculo.


Paralelamente o show obteve bom resultado ao atualizar a metáfora do Muro. Trinta anos atrás (o filme é de 1982) o Muro era a parede política, o conflito armado que pairava nos resquícios da Guerra Fria, hoje ele é a exclusão gerada pelo capitalismo global e pelo terrorismo dos Estados. Um discurso abrangente e funcional, de fácil adesão. O mito do Estado que promove o terrorismo e a exclusão financiado pelas corporações é o complementar na área social do mito de Proteção à Gaia, promovido pelos Greenpeaces da vida, que agressivamente se posicionam contra os ataques à entidade abstrata chamada Natureza. É a figura do Satã Bipartido, ora desajustando o Equilíbrio Social, ora desequilibrando o Meio Ambiente ao violentar a Mãe Terra...


Imediatamente me lembrei da Carta a d´Alembert, de Rousseau, e no papel que todo aquele circo teria. Do ponto de vista político, o show é perverso, pois usa a alienação para criticar a alienação. Todos saíram satisfeitos de lá, ao deixarem extravasar seus sentimentos genéricos de revolta, ao usarem seus uniformes de rebeldia e gravarem seus filminhos particulares que nunca irão assistir, que servirão mais como amuleto mágico, resíduo da experiência mística.


Do ponto de vista metafórico, a figura do Professor, que no filme massifica os alunos (Hey, teacher, leave us kids alone!), que andam em fila, sem rosto, com uniformes, enquanto são levados para uma grande máquina de moer carne, agora se corporifica na figura do próprio Roger Waters cantando no estádio. E, pelo que vi, não havia ironia nisto, os papéis se misturaram e não há mais como separar um do outro.


Flutuando sobre a platéia havia um porco todo grafitado. No Brasil foi feito pela dupla Osgêmeos (atualmente muito criticada pela comunidade do grafiti e do pixo por terem "se vendido ao sistema", coisa que 90% deles pretende fazer, mas não conseguiu ainda). Nele estava escrito: Muita Fé e Pouca Luta.


Evidentemente, o show de Roger Waters é um local de Culto, de Fé, e não de mobilização para Lutar contra aquilo que estava sendo criticado... Tempos bicudos...


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