Let´s Go!

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22.3.12

Onde é o "dentro de mim" ?

Uma das características mais marcantes da compreensão de nós mesmos é o conceito de "dentro" e "fora". Quando gostamos de alguém, dizemos que ela mora no nosso coração. E quando sentimos uma perda, parece que a pessoa foi embora de dentro de nós, não de nossas redondezas.

Acho que é por isto que a Pele é tão fascinante, ela é a neurônio da nossa alma, que delimita nossos "eus" e interfaceia com o mundo exterior, ora agindo como membrana semi-permeável, ora como escudo.


O filme " A Pele Que Habito", de Pedro Almodovar, trata de uma maneira intensa a questão do que é o "dentro" e o "fora", utilizando um recurso bem hollywoodiano, que é fortalecer uma metáfora subjetiva através de seu próprio reflexo objetivo. Explico: Dramas europeus tendem a criar metáforas muitas vezes antagônicas, o que está acontecendo na psique dos personagens apresenta uma distância fatual do que acontece em cena. No  filme de Almodovar, a questão da personalidade se resolve na cirurgia plástica. A questão da ausência e presença de objetos de afeto se manifesta na substituição do objeto, numa quase clonagem. O ódio se transforma fisicamente em amor, e vice-e-versa. É um dos filmes mais bem acabados do diretor, do ponto de vista cinematográfico.


Por outro lado, ao tentarmos entender a Pele nos deparamos com Cole Porter e sua belíssima canção Under My Skin, cantada por muitos, em especial Frank Sinatra. A lenda sobre esta música é que seria uma homenagem não a uma mulher, mas sim à cocaína. Curiosamente, tanto faz se é uma pessoa amada ou uma droga injetável, ela corre por dentro de nós, por baixo de nossa pele...


Por isto não deixa de ser surpreendente que a Nokia tenha registrado pedido de patente de uma tatuagem eletromagnética que vibre quando seu celular toca. É essencialmente o limite entre o dentro e o fora, onde a comunicação quer chegar, mas ainda esbarra em nossa Pele, que agora vibrará quando chegar uma mensagem ou seu celular tocar. A busca da mídia (hard e soft) em acessar os nossos mais íntimos desejos encostou na nossa Pele. O que ainda não sei é se ativaremos o nosso módulo Desejo (onde teremos prazer que ela vibre quando a pessoa amada ligar) ou o módulo Escudo (aparentemente mais frágil, pois será cada vez mais difícil ignorar quem não desejamos).

1 comentário:

Yara disse...

Achei incrível a colocação da pele como membrana semi-permeável (às vezes totalmente permeável, eu diria) ou escudo....e o que você disse sobre a percepção da perda...acho que o gostar/amar ocupa um espaço interno imenso, o que é uma delícia....mas lidar com o tamanho do buraco quando isso acaba é complicado.
Sendo a pele a interface de comunicação com o que está fisicamente “fora de mim”, acho que a impossibilidade do toque talvez seja a maior perda em uma relação unicamente virtual....almas podem se conectar pela tela, mas é muito difícil substituir o prazer de tocar/ser tocado fisicamente pelo outro...
Essa ideia da Nokia me lembrou um pouco o Admirável Mundo Novo....
Ainda prefiro as coisas à moda antiga, onde é o seu coração, quando tocado, que faz sua pele vibrar, e não uma tatuagem :o)