Na antiguidade César era acompanhado de um serviçal que tinha como única função lembrá-lo de que ele era mortal. Não sei se nunca tive o poder de César para precisar de alguém para me lembrar disto, mas sei que a vida é infinitamente criativa para nos lembrar de nossa condição humana. Muitas vezes a vida é irônica com isto, parece que quebra as nossas pernas justo naquilo que nos consideramos poderosos ou invencíveis.
Quando estamos bem de dinheiro, damos aquela respirada e resolvemos sentar na rede e curtir a bonança, lá vem a vida quebrando a rede e mandando a gente para o hospital. Quando estamos bem de saúde lá vem a vida avisando que deu problema no banco e que o dinheiro se foi.
Um dos problemas é a construção de narrativas lineares que criamos em nossas mentes. Parece que as coisas precisam ter uma sequência positivista, uma evolução que tende ao infinito. Mas o dado de realidade é que a vida é fragmentada (tanto que ficamos tentando "criar" esta linearidade em nossas cabeças, o aleatório absoluto parece inaceitável).
Se aceitássemos que as coisas acontecem sem o nosso controle talvez nossa vida fosse melhor. Mas a relação causa-efeito parece que sempre está presente, como a dizer que se fizermos uma coisa geraremos algum determinado resultado, o que quase nunca é verdade.
Quando algo acontecer na sua vida que te desestruture, não é para ficar animado, mas também não precisa se desesperar. Eis uma bela oportunidade de lembrar que as coisas não estão sob o seu controle. E sem precisar de um cara colado em você falando "você é humano... você é humano...", como o grande (ou pobre) César.
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