Para economizar, resolvemos juntar os amigos para irmos num carro só. E no dia, passei recolhendo todos em suas casas. O último foi um querido amigo filósofo, que estava reformando a casa dele.
Este amigo tinha achado o orçamento de descupinização muito caro, e resolveu fazer o serviço por conta própria. Para quem não sabe, o veneno mais forte de todos é o contra cupim. Você mistura um copo para cada balde de água para aplicar.
Fiquei surpreso ao ver meu amigo filósofo aplicando o veneno nos móveis na base da pincelada, com uma grande brocha, diretamente da lata. Diluir é coisa para fracos, não é verdade? E sem usar nenhuma proteção, máscara, luvas, nada.
Num determinado momento o gato dele passou pela sala. Estranhei o visual do gato, que estava sem nenhum pelo da cintura para baixo. Parecia que tinham roubado as calças do bichano. Meu amigo filósofo me despreocupou: O gato tinha sentado na lata do veneno e deu alguma reação alérgica, mas agora já estava tudo bem. Pelo menos do ponto de vista dele. E o gato lá, passeando sem calças pela sala.
Os anfitriões pediram que cada um levasse um salgado para contribuir com a festança. O filósofo resolveu fazer um de seus quitutes prediletos: Tomate recheado com ovos e maionese. E enquanto ele pincelava o veneno puro nos móveis o tomate recheado ficava lá, fora da geladeira já há alguns dias, entranhando os vapores malignos daquela lata.
Tentei demovê-lo da ideia de levar aqueles tomates, mas o cara fechou o tempo: Tinha feito com todo o carinho e ia levar. Bom, seja o que Deus quiser, pensei, entramos no carro levando os tomates enquanto o gato sem calças passeava pelo jardim.
A viagem foi tranquila, apesar do estranho cheiro que aquele troço exalava no colo do filósofo/descupinizador. Quando chegamos no sítio fomos deixar os salgados na grande tenda armada para o evento. Em suma, o tomate ficou mais uma tarde inteira fora do gelo antes da festa começar.
A festa estava ótima, os parentes de meu amigo todos muito simpáticos, música boa e bailão. Bela festa junina.
Curiosamente, ou sensatamente, ninguém tocou nos tomates recheados. Vez por outra eu passava pela mesa para conferir, temendo o pior, mas apenas uma pessoa comeu aquilo. Quem? Obviamente, meu amigo filósofo.
Não preciso dizer que umas 2h da manhã meu amigo veio na minha direção completamente verde. Foi a pessoa mais verde que eu já vi na minha vida. Os olhos virando, a pele azeitona, e cambaleante.
Imediatamente levamos o infeliz para o hospital, e depois de uma bela lavagem estomacal, soro e um monte de injeção, o cara melhorou. A mistura da descupinização com os tomates foi quase mortal.
Foi a última vez que ele fez seu delicioso e perigoso quitute. A raça humana agradece.
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