Fiz um grafiti na casa do meu querido amigo Luis Fernando Almeida neste final de semana. Na verdade fiz meio grafiti, pois tem uma parte que preciso terminar, faltou material.
Não tenho grande experiência com grafiti, mas tenho com o riscar. O risco faz parte de meu cotidiano, sem duplos sentidos psicológicos.
Queria falar algumas coisas sobre meu trabalho no universo visual. A primeira é que todo desenho é consequência do anterior, ou seja, ele faz parte de uma grande história, que começa nos meus cadernos no dia em que meu avô morre e se espalham por diversos suportes, em objetos, paredes, telas e mais o que aparecer pela frente. Existe uma mutação da forma, que conduz o tema, e vice-e-versa. Mas há uma proximidade visível entre o anterior e o próximo.
O que é realmente relevante neste tipo de trabalho não é a criação de uma imagem mental e a aplicação desta imagem sobre uma superfície. O que mais me interessa é o diálogo entre a superfície, o traço e a forma. Por isto a importância de alguns tipos de canetas (a fluidez da tinta, a ponta, a quantidade de tinta que escorre, o tempo de secagem) de desenho que uso. E por isto minha pequena produção de desenhos atualmente, já que as canetas que uso estão em falta no mercado. Preciso repensar o que vou fazer com isto.
A hachura (risquinhos), universo de textura/traço que habito, é absolutamente derivada da experiência com o entalhe das matrizes de xilogravura. O diálogo entre tentar cortar e o veio da madeira deixou uma marca importante na minha maneira de enxergar o produzir artístico. Algo como se fosse impossível aplicar uma ideia "pura" no mundo, na hora que traduzimos o pensar ele precisa passar pela característica do traço e depois dialogar com as características do suporte, que já existe, tem sua forma, densidade, etc.
Quando dou aula de Arte para adolescentes costumo dizer que "na vida não há borracha", e acho que todos devíamos pensar desta maneira. O traço que sai da caneta (ou da goiva, do cinzel, do pincel) é o que saiu, portanto, faz parte do gesto. O próximo gesto deverá dialogar com ele, e não corrigi-lo.
Sobre meus temas de desenho? Alguns são meus fantasmas, como o Super Herói que povoa minha alma e tento matar, descobrir qual é a Kriptonita que preciso usar. Enquanto não consigo matar o bicho, sublimo sua fantasmagoria em meus desenhos, deixo o monstro ir para fora de mim. Mas ele é assunto para outro post.
Meus asteróides são os ambientes inóspitos por onde este Super Herói viaja, mas meus asteróides às vezes se transformam em tentáculos (são formas muito semelhantes, um tentáculo enrolado parece muito com um asteróide). Neste exato momento, o asteróide está em mutação, e os tentáculos estão surgindo.
Crédito das duas primeiras fotos para Luis Fernando Almeida.
2 comentários:
Lembro como se fosse ontem, numa de suas aulas, voce estava fazendo seus desenhos, rs.. e eu fiquei uma meia hora olhando e tentando entender o que era aquilo, depois voce deixou eu ver seu caderno e desde a primeira folha tinha uma historia praticamente,rs.. muito louca por sinal. Mas muito legal, quando eu vi essa foto de voce "grafitando" , parece como se voce entrasse naquela historia, que coisa surreal. rs.. Adorei *-*
ficou incrível!! =D
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