Sobre Mineiros, Cavernas e Mitos
Escolhi (involuntariamente) uma curiosa maneira de acompanhar o resgate dos mineiros presos no Chile: Assistindo simultaneamente "O Poder do Mito", DVD com entrevistas do Joseph Campbell. E aí o tema me pareceu bastante apropriado para a situação.
Há algo que reconhecemos nas histórias - que contamos, que vemos e que nos comovem - com os mitos, e tenho pensado muito em quais seriam os mitos que regem nossa sociedade contemporânea.
Estranhamente não havia pensado que a saga dos mineiros presos na caverna pode simbolizar algumas coisas interessantes...
Quem são eles? O que estavam fazendo lá? Por que tamanha comoção mundial?
A primeira tentação é tentar compreender como um fenômeno meramente midiático, uma mistura de "A Montanha dos Abutres" com a intensa demanda de nossa sociedade por Reality Shows, a espetacularização da vida. Mas só isto não justificaria.
A segunda tentação é associar com uma questão de "projeção", afinal de contas sempre existiram crianças que caem em buracos e inúmeras pessoas assistindo o resgate, comovidas. Mas aí é que está o pulo do gato: ao invés de enxergarmos isto como explicação final, podemos compreender como parte de um fenômeno associado ao Mito: Afinal de contas, por que nos identificamos com estes trabalhadores presos num buraco?
Pensando um pouco, há algumas questões básicas. Uma delas talvez a mais importante é que eles simbolicamente retratam o conceito de ressurreição derivado das sociedades das florestas e adotado pelo cristianismo: Morremos, somos enterrados e então ressuscitamos, como a semente das árvores. A árvores renascem, como o espírito renascerá do corpo daquele que foi enterrado.
Temos fé de que os mineiros voltarão a vida, pois se isto acontecer nossa fé na ressurreição não será abalada, mas sim reforçada e renovada.
Há outro elemento rico que é o Chamado para a Aventura: nenhum daqueles homens sabia que existia uma aventura a ser vivida por eles, da mesma maneira que nos não sabemos qual e a aventura para a qual fomos chamados e nem por que. A vida, cheia de surpresas é igual a aventura da caverna, onde temos de continuar a viver sem saber como vai acabar.
Do ponto de vista simbólico, há a questão da Deusa, da caverna que representa o útero, de onde todos saímos. É como se estivéssemos assistindo ao nascimento dos trinta e três mineiros em tempo real, saindo das entranhas da deusa primitiva.
Por último, e não menos importante, é a identificação que temos com eles: Será que estamos todos nos sentindo aprisionados, no buraco, sem luz, sem contato, enterrados vivos, e aguardamos ansiosamente a chegada de alguém que possa nos tirar desta situação?
Escolhi (involuntariamente) uma curiosa maneira de acompanhar o resgate dos mineiros presos no Chile: Assistindo simultaneamente "O Poder do Mito", DVD com entrevistas do Joseph Campbell. E aí o tema me pareceu bastante apropriado para a situação.
Há algo que reconhecemos nas histórias - que contamos, que vemos e que nos comovem - com os mitos, e tenho pensado muito em quais seriam os mitos que regem nossa sociedade contemporânea.
Estranhamente não havia pensado que a saga dos mineiros presos na caverna pode simbolizar algumas coisas interessantes...
Quem são eles? O que estavam fazendo lá? Por que tamanha comoção mundial?
A primeira tentação é tentar compreender como um fenômeno meramente midiático, uma mistura de "A Montanha dos Abutres" com a intensa demanda de nossa sociedade por Reality Shows, a espetacularização da vida. Mas só isto não justificaria.
A segunda tentação é associar com uma questão de "projeção", afinal de contas sempre existiram crianças que caem em buracos e inúmeras pessoas assistindo o resgate, comovidas. Mas aí é que está o pulo do gato: ao invés de enxergarmos isto como explicação final, podemos compreender como parte de um fenômeno associado ao Mito: Afinal de contas, por que nos identificamos com estes trabalhadores presos num buraco?
Pensando um pouco, há algumas questões básicas. Uma delas talvez a mais importante é que eles simbolicamente retratam o conceito de ressurreição derivado das sociedades das florestas e adotado pelo cristianismo: Morremos, somos enterrados e então ressuscitamos, como a semente das árvores. A árvores renascem, como o espírito renascerá do corpo daquele que foi enterrado.
Temos fé de que os mineiros voltarão a vida, pois se isto acontecer nossa fé na ressurreição não será abalada, mas sim reforçada e renovada.
Há outro elemento rico que é o Chamado para a Aventura: nenhum daqueles homens sabia que existia uma aventura a ser vivida por eles, da mesma maneira que nos não sabemos qual e a aventura para a qual fomos chamados e nem por que. A vida, cheia de surpresas é igual a aventura da caverna, onde temos de continuar a viver sem saber como vai acabar.
Do ponto de vista simbólico, há a questão da Deusa, da caverna que representa o útero, de onde todos saímos. É como se estivéssemos assistindo ao nascimento dos trinta e três mineiros em tempo real, saindo das entranhas da deusa primitiva.
Por último, e não menos importante, é a identificação que temos com eles: Será que estamos todos nos sentindo aprisionados, no buraco, sem luz, sem contato, enterrados vivos, e aguardamos ansiosamente a chegada de alguém que possa nos tirar desta situação?
Não podemos banalizar as histórias que nos cercam, pois elas mexem fundo com a nossa própria e maravilhosa experiência de estarmos vivos.
PS - Minha aluna Camila Avelino me lembrou também do Mito da Caverna de Platão, também muito aplicável a esta situação...
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